(*) Hélio Consolaro
Sou de uma época em que Caetano Veloso cantava: é proibido proibir, digo não ao não. Como educador digo que é mais fácil proibir do que ensinar.
Desde criança, o telefone para mim era uma facilidade para encurtar distância, mas fazer uma ligação interurbana demorava 8 horas. Pedia-se de manhã para conversar apenas à tarde. O aparelho era do patrão
No finalzinho da década de 70, recebi um aparelho da Telesp, pago a duras prestações. A partir daí, vendia-se um aparelho para comprar um carro.
Hoje, o aparelho celular está tão acessível que anda ajudando e atrapalhando a vida de muita gente. Estamos ainda aprendendo a conviver com a nova tecnologia.
A televisão já foi pichada como a desgraça do mundo. Em certo período de meu magistério usei um material didático da Universidade Federal de Santa Catarina que ensinava o aluno do ensino fundamental 2 a ser um telespectador crítico com os programas da época. Apontava até as armadilhas. Ainda não havia TV paga e nem internet, só telefone fixo. Com o celular está acontecendo o mesmo, está sendo classificado pela ignorância como a desgraça do mundo.
A nova geração está abandonada à própria sorte, os pais não ensinam a cidadania e a escola também não. Pessoas são presas fáceis dos espertalhões da internet. Pais, às vezes, ou quase sempre, renunciam a seu papel de educador e orientador de seus filhos.
A escola recebe seus filhos com uma ferramenta fantástica em suas bolsas: o celular, que pode ser usada no processo ensino-aprendizagem. Como os adultos não a entendem direito, a garota se torna algoz dos mais velhos.
Nem sempre os professores estão preparados para a modernidade. Então, o celular se transforma num brinquedo que atrapalha a aula que é ministrada pelo método tradicional.
Diante do desespero das escolas públicas e particulares, as autoridades (exemplo do estado de São Paulo) acha mais cômodo proibir o uso do celular nas escolas. Dá menos trabalho, custa menos ao governo.
Enquanto a pesquisadora Sofia Sebben diz que o uso excessivo do celular é apenas a “ponta do iceberg” e que é preciso observar outras questões, como a saúde mental e a relação com a educação, a Unesco concluiu que o uso de celulares tem efeitos negativos nos resultados educacionais, impactando principalmente a memória e a compreensão.
Confesso aos caros leitores que no fim de meu magistério é que apareceram alguns celulares em sala de aula. Não tenho experiência significativa. Apenas considero, com experiências de outras modernidades, que apenas proibir não é o caminho correto, precisa disciplinar o uso do celular, inclusive fora da escola.
(*) Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP