Uma ocorrência atendida na zona leste de São Paulo, há vinte anos, marcaria para sempre a vida do agora coronel Diógenes Munhoz, comandante dos Bombeiros da região de Campinas, no interior paulista. Um caso de suicídio, no qual participou, fez o militar se especializar no assunto dentro da corporação.
Durante quase uma década, o bombeiro estudou o tema, abordando causas e consequências. No mestrado, desenvolveu a abordagem e lançou o primeiro curso humanizado de atendimento a tentativas de suicídio do Brasil.
A técnica utiliza conhecimentos da psicologia, psiquiatria, filosofia e linguagem corporal. “Já atendi a mais de 60 casos desse tipo depois dessa técnica. Em todos eles, sempre tive um desfecho positivo”, acrescentou o militar.
Rompendo fronteiras
O curso desenvolvido pelo Corpo de Bombeiros de São Paulo atravessou fronteiras e, nesta semana, desembarcou pela primeira vez em um país da Europa. As aulas estão sendo ministradas para 23 bombeiros voluntários e um integrante militar da cidade do Porto, em Portugal.
“Não existe nada parecido no continente europeu. Esse é um conhecimento inédito para os bombeiros locais que não tinham acesso a essa abordagem”, disse o coronel Diógenes. “Que Porto seja as portas para que a gente possa chegar em toda a Europa humanizando esse tipo de atendimento”, complementou.
O comandante dos bombeiros voluntários da cidade do Porto, Luís Silva, agradeceu a presença dos militares paulistas. “A presença do Corpo de Bombeiros de São Paulo aqui em Portugal para difundir esse conhecimento é muito valiosa. Muito obrigado por estarem conosco.”
Referência nacional e internacional
Desde 2016, o curso já foi aplicado em 18 estados brasileiros. Há dois anos, a técnica foi aplicada de forma inédita fora do país, em Montevidéu e Punta Del Leste, no Uruguai.
As aulas sobre o tema fazem parte do calendário oficial de cursos da Polícia Militar. Os alunos estudam a técnica durante a preparação na Escola Superior de Bombeiros, em Franco da Rocha, na Grande São Paulo.
Podem se inscrever no curso policiais militares, bombeiros, enfermeiros, médicos, assistentes sociais, psicólogos, psicanalistas, entre outros. Até o momento, o Corpo de Bombeiros já formou cerca de 800 abordadores, nome dado a quem lida com casos dessa complexidade.
Com mais de 25 anos de carreira, Diógenes se sente grato por ter ajudado a salvar muitas vidas ao longo do trabalho. Mas admite que não seria possível sem a ajuda de seus companheiros.
“Hoje tenho a sensação de dever cumprido, muito também pela conjunção de vários profissionais que me fizeram estar aqui nesse momento. Representamos uma corporação para amparar essas pessoas que passam pelos piores momentos da vida dela”, finalizou.