(*) Hélio Consolaro
Não foram os norte-americanos que divulgaram tanto no mundo que lá tudo funciona, dinheiro dava em árvore? Aqui a gente sabe governar. O governo de seu país é incompetente. Tudo isso estava subentendido. O cinema do Tio Sam nos encantava com tanta riqueza e nos sentíamos como um povo de baixa autoestima.
Nosso povo, esse mesmo que acredita em Papai Noel depois dos 60 anos, joga na loteria continuamente (ou no bicho) porque acham que do trabalho do trabalho não vem nada. Tudo é sorte. Há um Deus para cada um. Salve-se quem puder.
Os mais pobres, que não estudaram, não se prepararam profissionalmente, que não se contentavam com que tinham e a boa sorte não aparecia, resolveram escalar fronteiras, caindo em conversa de coiotes. Eles são criminosos que usam redes sociais para captar e enviar brasileiros de forma ilegal aos Estados Unidos.
Governador Valadares, conhecida como capital nacional da emigração (ou dos coites) porque você lá encontrava um jeito para sair do país. Hoje, o ídolo desse povo, que deve ser um político demagogo, está cabisbaixo, como dizia minha avó: rabo entre as pernas.
Pensando num mundo com fronteiras, com cercas isolando propriedades privadas, é justificável que o povo do lugar determine uma política migratória para que o número de necessitados não aumente tanto.
Mas parece que o povo norte-americano não percebia isso, nem as autoridades, deixaram as porteiras abertas. Estados Unidos é o mundo da fartura. Aí chegou um maluco que prometeu isso na campanha eleitoral, recebeu votação massiva dos migrantes. Eleito, pôs a promessa em prática.
Em suma a campanha de Trump: “Vamos fazer a América rica novamente. Nós faremos América orgulhosa outra vez. Vamos fazer a América segura novamente. E sim, juntos, nós faremos a América grande outra vez.” Só faltou ser mais claro: vamos nos livrar dos imigrantes.
E nós também aqui ficamos com cara de pasmo, pois não soubemos construir uma sociedade cristã, onde todos tenham dinheiro à vida. Já saíram daqui rejeitados e voltaram como tal.
Assim chegaram os escravos, dessa vez de avião, mas acorrentados, algemados, como criminosos, pois acharam que o mundo também era deles. Se não deram certo aqui, dariam noutro lugar. Dançaram.
(*) Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro das academias de letras de Araçatuba-SP, Andradina-SP, Penápolis-SP, Itaperuna-RJ