(*) Hélio Consolaro
“São oito milhões de habitantes
De todo canto e nação
Que se agridem cortesmente
Correndo a todo vapor
E amando com todo ódio
Se odeiam com todo amor” (Tom Zé)
SÃO PAULO, MEU AMOR – TOM ZÉ (OUÇA A MÚSICA PELO YOUTUBE)
“São, São Paulo Meu Amor”, a campeã do Festival da Música Popular Brasileira de 1968. Canção tropicalista de Tom Zé Conheci São Paulo como um estafeta da antiga Fazenda do Estado, quando substituí o Seu Jorge Policarpo, um funcionário que havia morado por lá, assim que completei 18 anos.
Alguém (ou alguns), vendo aquele menino com a cara cheia de espinha, tenha dito: vamos pôr o Hélio para ganhar o mundo. A primeira vez, Seu Jorge me levou. A segunda, fui sozinho, tremendo de medo. Ambas as viagens pela Reunidas, com passe oficial do Estado de São Paulo.
Mas o Consa, que teve outras oportunidades, quis ganhar o mundo, mas não queria pular definitivamente o ribeirão Baguaçu. E por esse espírito de lavrador, sedentário, aqui serei enterrado. Tom Zé, sujeito criativo e irreverente, saiu da Bahia e se fez o autor do hino de SP num festival de 1968. Nordestino de classe social mais abastada, não precisou ser trabalhador da construção civil em São Paulo, como fez João do Vale no Rio de Janeiro.
Em 1968, SP possuía oito milhões de habitantes, agora 11 milhões. Sendo a maior cidade nordestina do Brasil (40% da população). Nada mais providente que Tom Zé fosse o autor de seu quase hino em 1968.
O compositor nordestino detectava no seu hino: “E amando com todo ódio/Se odeiam com todo amor” a luta cultural latente da época que hoje é evidente e relevante nas últimas eleições. E para revelar que Deus se manifesta na história dos homens, a paraibana Luiza Erundina foi prefeita de São Paulo de 1989-1992.
Nesses seus 471 anos, a cidade de São Paulo, cosmopolita, megalópole, característica própria das Américas. Abrigou todos, mas com toda a voracidade da acolhida explorou um a um. Assim um filho de casal cearense, o paulista Criolo, cantou: Não existe amor em SP. Nem garoa, só poluição.
(*)Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro das academias de letras de Araçatuba-SP, Andradina-SP, Penápolis-SP e Itaperuna-RJ