(*) Hélio Consolaro
Manhã de sábado, 21/12/2024, quase véspera de Natal, sem nada fazer no centro da cidade, inventei uma desculpa para sair. A volúpia consumista era tanta que não havia vaga nem estacionamento particular. Era o pulsar do pagamento da última parcela do 13.o salário. Nem o café da esquina tinha lugar para pôr uma xícara no balcão.
O fato de o povo ter dinheiro no bolso para gastar foi puxado segundo o seu interesse. O prefeito disse que tudo isso era graças ao seu trabalho em prol do desenvolvimento. O governador também tirou a sua casquinha, classificando o seu governo de dinâmico. O governo federal ria à toa, pois não fosse ele enfrentar a usura do mercado, que quer todo o dinheiro para si, o governador e o prefeito estavam no pessimismo.
Apenas não sei se alguém daquela multidão sabia o que ia ser comemorado no próximo 25 de dezembro. Não importa, era só alegria!
Pouca luz, pouco som
O espetáculo que decretou o Natal em Araçatuba em 2024, no Centro Cultural Thati, aconteceu no dia 19/12/2024: Starligt Concert – Concertos de Natal. Resolvi escrever esse texto, nem para elogiar e nem criticar, apenas para mostrar ao leitor o meu estranhamento.
Início, meio e fim, mas em nenhum momento as luzes foram acesas, durante os 70 minutos do espetáculo. A iluminação era bruxuleante, à base de LED. Lembrava uma caverna. Ouvidos e olhos bem focados.
Ninguém viu o rosto de quem estava do lado, se ria ou chorava. Os aplausos vieram no escuro. Segundo informações posteriores, era um jeito norte-americano de apresentação de espetáculo musical. Como capiau de Araçatuba, fui seguindo o roteiro apresentado, ávido por novas experiências.
Público e músico não se conversaram. Ninguém soube a história do projeto, como ele foi financiado. Pagamos os ingressos e ficamos calados. Os artistas do espetáculo entraram e saíram de Araçatuba no anonimato. Parece que estavam apenas interessados no dinheiro do ingresso.
Ao deixar a plateia, eu não sabia se quem estava de meu lado era da plateia ou do palco. Não havia espaço para fofocas. Nenhum explicativo panfleto foi entregue. Fantasmas tocavam e cantavam para espíritos ávidos de arte. Minha cultura latino-americana exigia interação, explicação.
O antigo e o moderno tomaram conta do som. Era música para todos, não só apenas para um segmento. Não havia barulho, só harmonia. Não se distanciavam no tempo. E por último, decretaram é Natal. Todos saíram felizes acreditando.
Na calçada da rua General Glicério, descobrimos que alguns amigos estavam conosco.
(*)Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro das academias de letras de Araçatuba-SP, Andradina-SP, Penápolis-SP, Itaperuna-RJ