(*) Eliane Cabral
Você é um Sujeito com lugar de existência? Ou você é um Objeto do Outro; que vive para atender a demanda do Outro?
Em 1886 Freud começa a tratar casos clínicas que ele nomeou por histeria. Bem no início ele acompanhou “mulheres histéricas” (a posteriori, homens). Essas mulheres apresentavam dores, paralisias, apatia, perda da fala e outros sintomas. Porém, ao iniciar o acompanhamento com Freud, algo acontecia: elas sentiam-se vistas, percebidas, existentes, acolhidas, vivas.
Ao ter sua dor escutada, ao ter um lugar de pertencimento e escuta; elas passavam a existir (passavam a ter lugar de existência).
Nos dias de hoje os casos clínicos, os sintomas, são infinitamente mais graves. Mas seguem sinalizando a ausência de lugar de existência. O não existir tanto do sofrer, quanto de quem sofre.
Nota-se que as pessoas acham que quanto mais editadas, robotizadas, “perfeitas” elas forem; mais elas serão “algo”. Enquanto o que de fato nos torna “algo” é: a humanidade, a simplicidade, a sensibilidade, a empatia, o ser de verdade.
E quanta essência temos dentro de nós, a fartura de possibilidades que portamos, a potência que o simples em nós carrega; tudo isso em busca de lugar de existência.
Quanto mais nos distanciarmos da nossa humanidade, mais adoeceremos. Não podemos normalizar, tão pouco ignorar, contextos emocionais que denunciam que estamos adoecendo, ou já adoecidos. Eles podem ter se tornado comuns (porque você tem ignorado o que eles estão sinalizando), mas não são normais, nem saudáveis.
Os sintomas, o sofrimento, a dor; são sinais claros de que algo não vai bem.
Você tem lugar de existência? Você está na vida para existir ou para atender às demandas do Outro?
Você é ou você só existe fazendo, produzindo, reproduzindo?
Por uma cultura de cuidados com a Saúde Mental.
Setembro Amarelo: de Setembro a Setembro.
(*) Eliane Cabral é Psicóloga Clínica, Especialista em Prevenção e Pósvenção em Suicídio, Especialista em Saúde Mental; Percurso em Psicanálise.