Descer as corredeiras de um rio e seguir os passos de um grande líder fez com que João Rodrigues se tornasse bombeiro e praticante de rafting, um esporte aquático radical realizado com uso de botes. O que ele não imaginava é que 14 anos depois da sua primeira descida nas águas pudesse disputar um torneio sul-americano ao lado de sua principal referência profissional na vida.
O mentor do soldado Rodrigues é o cabo Fábio Ramos, que trabalha há quase 15 anos no 16º Grupamento de Bombeiros (GB) de Brotas, no interior de São Paulo. Antes de ser bombeiro, o militar fez faculdade de turismo e era guia turístico na cidade. Ele ensinava os visitantes a praticar esportes radicais, entre eles o rafting.
“Eu me encontrei nesse esporte. É muita adrenalina. A ideia de conduzir um grupo me animava bastante”, disse o policial. O rafting é praticado por quatro ou seis pessoas que ficam em um bote e descem rios ou canais artificiais de até 400 metros de distância.
Desde 2002, quando foi campeão de um campeonato em Nova Rosa do Sul (RS), Ramos já disputou diversos torneios nacionais e internacionais, sendo nove vezes campeão do mundo. Toda essa trajetória de sucesso inspirou Rodrigues a seguir o mesmo caminho, que por coincidência, também mora na mesma cidade e trabalhava em uma agência de turismo.
“A gente pega várias referências no esporte e para mim o Fábio é um líder. Eu via ele e falava que um dia eu queria remar com esse cara”, contou o soldado. “Um dos meus sonhos era ganhar um sul-americano ou um mundial com ele remando”, complementou.
Além do rafting, a influência de Ramos chegou até o Corpo de Bombeiros. Em 2021, Rodrigues entrou para o 19º GB, em Várzea Paulista, também no interior do estado. No entanto, a distância da família e dos amigos do esporte fez com que o militar pedisse transferência para o grupamento de Brotas.
Para o militar, trabalhar nos bombeiros e praticar o rafting tem suas semelhanças: “A corporação te ensina a ter disciplina e a trabalhar em equipe, que são conceitos fundamentais para também executar o esporte. Trabalhar sozinho não dá certo em nenhum dos dois”, explicou.
“O trabalho em equipe, inclusive, é a parte mais difícil porque é preciso estar em sincronia. A remada, a amplitude do braço, a postura do corpo, o peso, tudo conta”, disse o bombeiro.
Pan-Americano do Chile
O sonho de Rodrigues pode se tornar realidade a partir desta quinta-feira (31), quando ele disputará pela primeira vez os Jogos Pan-Americanos de Rafting ao lado do cabo Ramos. O torneio é realizado no rio Trancura, localizado na cidade de Pucón, no Chile.
Além da dupla, o time é formado pelos soldados Murilo Torres, Leandro Cavalcante e um civil, Rafael da Cruz. Durante três dias, eles passarão por diversas provas em um campeonato que vai reunir 40 times de vários países, inclusive europeus.
Rodrigues também busca seu primeiro título na modalidade sênior, acima dos 23 anos. Antes já ganhou mais de 20 medalhas em torneios e quatro mundiais júnior. “Tudo que eu tenho hoje é graças ao rafting. Por causa dele já conheci quase 15 países. Espero que um dia essa modalidade se torne olímpica”, finalizou.