Uma investigação da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) revelou que Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores (CACs) foram responsáveis por treinar integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) no uso de armas de fogo de alto poder destrutivo. O objetivo do treinamento era capacitar os criminosos para realizar ataques violentos conhecidos como “novo cangaço” ou “domínio de cidades”, como o ocorrido em Araçatuba, em 2021.
Esses ataques são caracterizados pelo uso de armamento pesado e extrema violência em assaltos a bancos, caixas eletrônicos, carros-fortes e transportadoras de valores, gerando pânico entre a população. Os CACs, que têm acesso legal a armamentos, estariam atuando como fornecedores de armas e munições para a facção criminosa.
A partir de 2019, com a flexibilização das regras para CACs pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), o número de armas registradas por essas categorias aumentou drasticamente. Enquanto em 2018 foram registradas 59 mil novas armas, em 2022 esse número saltou para 431 mil, facilitando o acesso a armamentos de alto calibre. Investigadores da PF e do Ministério Público apontam que o PCC se beneficiou dessa maior disponibilidade de armas.
Um vídeo obtido pelos investigadores mostra o CAC Otávio de Magalhães ensinando membros do PCC, Elaine Garcia e Delvane Lacerda (conhecido como Pantera), a manusear um fuzil. Otávio, que responde por porte ilegal de arma de uso restrito, é acusado de vender ilegalmente armas para o PCC. Em sua casa, foi encontrado um arsenal com dezenas de armas e munições, incluindo explosivos e acessórios usados em ataques.
A segunda fase da Operação Baal, deflagrada na última terça-feira (10), resultou na prisão de três suspeitos. Desde o início do ano, 18 pessoas já foram denunciadas, incluindo quatro CACs presos na primeira fase da operação. Esses indivíduos estão ligados a ataques em cidades como Criciúma (SC), Guarapuava (PR), Araçatuba (SP) e Confresa (MT), além de execuções no Piauí e disputas de pontos de drogas na Grande São Paulo.
As investigações continuam, e o delegado da PF Jeferson Di Schiavi destacou que o acesso facilitado a armas por CACs contribui para o aumento das ações de domínio de cidades. “A aquisição de armas pelo PCC não é novidade. Mas a partir do momento em que os CACs conseguem essa facilidade de ter acesso ao armamento, aquisição de munição e acabam não usando e cedendo para os criminosos, isso facilita as ações de domínio de cidade e novo cangaço”, explica o delegado.
O promotor de Justiça Eduardo Veloso reforçou que o grupo atua nacionalmente, com grande presença no Norte e Nordeste do Brasil. “O grupo também é investigado por diversas execuções em Avelino Lopes (PI) e pela disputa de território para o comércio de drogas em Osasco, na Grande São Paulo. É um grupo que atua em todo país, mas com base em São Paulo e com grupos bem atuantes no Norte e no Nordeste do país”.