A anta Andradina, que ganhou este nome após ser resgatada de um incêndio naquele município paulista, morreu nesse sábado, 14 de setembro, dois dias após ser encontrada gravemente ferida, com o corpo 100% queimado. Ela estava em uma área próxima a um canavial que foi alvo de queimada na última quinta-feira (12).
A anta estava em tratamento na sede da ONG Associação Mata Ciliar, em Jundiaí (SP), para onde foi levada ainda na quinta-feira. O estado dela era considerado gravíssimo, pois além dos ferimentos na pele, houve lesões internas.
Até a retina do animal sofreu queimaduras, comprometendo a sua visão. As pontas das patas, também feridas pelo fogo, estavam caindo e toda a extensão do seu corpo estava em carne viva, conforme o presidente da Mata Ciliar, Jorge Bellix.
Outra agravante é que a anta inalou muita fumaça, além de ter inalado e ingerido fuligem quente, ou seja, brasa, o que feriu os seus órgãos e atingiu o sistema respiratório.
Para a Mata Ciliar, que é especializada no resgate e tratamento de animais silvestres feridos, foi uma dolorosa batalha a morte da anta Andradina, que se tornou o símbolo mais marcante da catástrofe ambiental que assola o Estado de São Paulo e todo o Brasil.
“A anta Andradina é, realmente, um verdadeiro símbolo, pois, mesmo com sua vida perdida, nos mostrou, após exames realizados, que estava lactante, indicando que amamentava um filhote que, certamente, também morreu nessas queimadas. Além disso, Andradina estava no início de uma gestação, o que nos dá a triste lição de comoe stamos tratando as presentes gerações e comprometendo as futuras”, escreveu a ONG, em nota publicada em suas redes sociais (leia a íntegra abaixo).
Resgate
O animal foi resgatado por policiais ambientais, após serem informados pela funcionária de uma usina que viu a anta queimada em meio ao fogo. A anta não conseguiu correr do incêndio e estava bastante debilitada.
Foi preciso utilizar uma pá carregadeira para transportar o animal e colocá-lo na viatura, por ser de grande porte. Uma anta adulta pode pesar até 300 quilos.
Inicialmente, o animal foi levado ao Hospital Veterinário de Andradina. Horas depois, a ONG Mata Ciliar transportou a anta em uma caminhonete para a sua sede, onde acabou falecendo.
Desde que a onda de incêndios começou, em todo o País, a ONG Mata Ciliar recebeu mais de 170 animais provenientes de acidentes e queimadas, que ou foram atropelados ou se queimaram ao tentar fugir do fogo. Entre as espécies estão cachorro-do-mato, viado, gambá, tamanduá e a anta ferida em Andradina.
Leia a nota emitida pela Associação Mata Ciliar:
Luto pelo símbolo da resistência do país
“Hoje, a anta Andradina que estava sob nossos cuidados, morreu. O animal foi socorrido pela Polícia Ambiental em um canavial na região de Andradina, mas não resistiu à extensão das lesôes externas e internas sofridas. A anta Andradina tornou-se o símbolo mais marcante da catástrofe ambiental que assola o Estado de São Paulo e todo Brasil.
A foto joga na nossa cara, toda verdade da hipocrisia com que nossa sociedade trata o Meio Ambiente. Em que pese todos os esforços realizados pelas diversas instituições para salvar esse animal, como a Polícia Ambiental de Castilho, o Hospital Veterinário de Andradina, o Zoológico de Bauru e a Associação Mata Ciliar, entre outras, pouco pudemos fazer para salvar a vida dessa anta, que como milhares/milhões de outros animais vem sendo carbonizados pelas chamas da insensatez, da ganância, do radicalismo ideológico, da ignorância, da loucura de alguns, da teimosia de muitos, dos políticos sem compromisso com a Natureza.
A anta Andradina é, realmente, um verdadeiro Símbolo, pois, mesmo com sua vida perdida, nos moatrou, após exames realizados, que estava lactante, indicando que amamentava um filhote que, certamente, também morreu nessas queimadas. Além disso, Andradina estava no início de uma geatação, o que nos dá uma triste lição de como estamos tratando as presentes gerações e comprometendo as futuras.
Toda essa destruição provocada criminosamente por aqueles que insistem em se considerarem “seres escolhidos”, desprezando toda e qualquer outra forma de vida, deve ser refletida pela sociedade, como um momento de se dar um basta a esta destruição ambiental que visa um crescimento econômico a qualquer custo. Neste momento de mudanças de base, com as eleições municipais chegando, devemos assumir o compromisso de “varrer” os políticos que apoiam esse tipo de pensamento.
Em seus mais distantes recantos, nos maiores ou menores municípios desse país, todos conhecem os candidatos que defendem as bandeiras da proteção e conservação ambiental e aqueles que só praticam atos voltados aos seus interesses pessoais ou de seu grupo econômico.
A Natureza está nos mostrando que sua “paciência” e capacidade de suportar esses desatinos chegou ao fim. A inercia dos governos e o descaso de grande parte do poder econômico também já foram demonstrados.
Esse é o momento da sociedade civil, organizada e consciente, assumir seu papel e seu poder de escolha, que possamos ter um novo Brasil em 2025, começando por “limpar” definitivamente nossas cidades daqueles que tem levado nosso país a esse caos ambiental que estamos vivendo. Não podemos nos esquecer que são os políticos em nossos municípios que formam as bases daqueles que estão em Brasília alterando quase que diariamente a legislação ambiental.
Que a morte da anta Andradina e de outros milhares de animais em nosso país, nos últimos meses, não tenha sido em vão, pois se deixarmos passar essa oportunidade de mudanças, talvez não tenhamos mais tempo para reversão desse quadro.
Nossos mais sinceros agradecimentos a todas as instituições e pessoas que se empenharam ao máximo para tentar salvar esse magnífico animal que se foi, à Polícia Ambiental, à toda equipe do Hospital Veterinário de Andradina, ao Zoológico de Bauru e de São Bernardo do Campo, às equipes de colaboradores voluntários e estagiários da Associação Mata Ciliar de Araçatuba, Bauru e Jundiaí, que es desdobraram em atenção e cuidados desse animal desde seu transporte até seus momentos finais, ao motoboy que prontamente nos atendeu buscando insumos para aliviar as queimaduras do animal, e tantos outros parceiros que desses últimos dias, momentos intensos de solidariedade, companheirismo, profissionalismo, dedicação e sentimento de dever cumprido. Mesmo tendo perdido essa dolorosa batalha, certamente saímos mais fortes em nossa certeza de estarmos lutando do lado certo dessa guerra.
Todos notaram que começamos essa nota dizendo “a perda de um símbolo” e não a morte, porque um símbolo jamais morre. Um símbolo, como a anta Andradina, ganha os corações e mentes, fortalecendo os propósitos em fazer cada vez mais e melhor aquilo que acreditamos, e a nos esforçarmos em provocar as mudanças necessárias, para o bem, em nossa sociedade. Só podemos dizer obrigado a todos que participaram dessa luta.”
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