Os incêndios que atingiram diversas áreas no interior de São Paulo estão causando danos severos à cafeicultura da região. Plantios de café em municípios como Altinópolis, Ribeirão Corrente, Cristais Paulista e Pedregulho foram consumidos pelas chamas, levando os produtores a enfrentar perdas irreversíveis. Segundo especialistas, os pés de café que foram atingidos pelo fogo não podem ser recuperados e precisarão ser replantados, o que atrasará a próxima colheita para 2027.
Fogo avança por áreas vulneráveis
As áreas mais atingidas pelos incêndios estão localizadas próximas a canaviais e vegetações nativas, onde o fogo se espalha com maior facilidade. De acordo com o engenheiro agrônomo Marcelo Jordão, diretor da Fundação Pró-Café, cerca de 100 hectares de cafezais já foram destruídos somente na região da Alta Mogiana Paulista. “A pessoa vai ter que plantar uma nova lavoura agora em janeiro de 2025, e ela vai colher café só em 2027”, explica Jordão.
Os incêndios, que começaram a se intensificar no final de agosto, são agravados pela estiagem histórica que atinge a região. A última chuva significativa foi registrada em abril, e as previsões indicam que as precipitações só devem retornar no final de setembro. Com a seca e as altas temperaturas, as condições para o alastramento das chamas são ainda mais propícias.
Esforço coletivo para conter as chamas
Produtores locais relataram os desafios enfrentados para evitar a destruição total de suas propriedades. Lucas Ubiali, engenheiro agrônomo e produtor rural em Pedregulho, SP, contou que se mobilizou junto a vizinhos e funcionários para combater o fogo com caminhões-pipa, pulverizadores e outros equipamentos. Mesmo com todo o esforço, parte significativa das lavouras foi destruída. “Ficamos três dias tentando controlar as chamas. Estava sob controle, mas estamos em alerta constante até que as chuvas normalizem a situação”, disse Ubiali.
Já o produtor Maurivan Rodrigues, que mantém 500 hectares de café arábica na região, conseguiu evitar maiores prejuízos graças aos aceiros em sua propriedade, que impediram o avanço das chamas até o café. “Não perdi nenhum pé, mas alguns vizinhos não tiveram a mesma sorte, principalmente os que estão perto de canaviais”, relata Rodrigues.
Danos irreversíveis e replantio
Ao contrário de outros fenômenos, como a geada, que permite a recuperação das árvores através da poda, os incêndios queimam as plantas de dentro para fora, destruindo as estruturas celulares e inviabilizando qualquer possibilidade de recuperação. O replantio é a única solução viável, mas esse processo é demorado e custoso. Segundo Marcelo Jordão, um novo ciclo completo do café dura, em média, dois anos, o que significa que a colheita prevista para 2025 já foi comprometida.
A alternativa ao replantio seria a recepa, técnica que consiste em cortar os pés de café a 60 centímetros do solo, permitindo a brotação de novos ramos. No entanto, essa técnica nem sempre é eficiente e pode sair mais cara do que plantar uma lavoura nova.
Impacto econômico e aumento nos preços
Com a destruição das lavouras, o impacto na produção de café deste ano e dos próximos ciclos será significativo. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) deve divulgar no dia 19 de setembro um levantamento oficial sobre os danos causados pelos incêndios nos cafezais. Enquanto isso, o mercado já reflete o impacto do clima adverso, com a saca de café arábica alcançando R$ 1.426, em comparação aos R$ 888 no início do ano. O robusta também apresentou aumento expressivo, passando de R$ 660 para R$ 1.341.
A tendência é de que os preços continuem subindo caso as condições climáticas não melhorem nas próximas semanas, o que preocupa tanto os produtores quanto os consumidores.
Esperança nas chuvas e futuro incerto
A chegada da primavera e das chuvas previstas para o final de setembro é vista como a única esperança para reduzir os riscos de novos focos de incêndio e amenizar os impactos causados pela estiagem. No entanto, os produtores seguem em alerta constante, cientes de que a recuperação total das lavouras afetadas será um processo longo e dispendioso.
Produtores como Lucas Ubiali e Maurivan Rodrigues ainda se recuperam dos prejuízos e continuam monitorando suas plantações, esperando que o pior já tenha passado.