Especialistas estão investigando se o congelamento das asas teve um papel crucial no acidente com o ATR-72, que caiu em Vinhedo (SP), na última sexta-feira (9), matando todos os 62 ocupantes. A aeronave sobrevoava a cidade a uma altitude de 5.100 metros quando o acidente ocorreu.
O ATR-72 é equipado com um sistema de descongelamento, conhecido como sistema pneumático de botas (veja o vídeo abaixo), que infla a lataria da aeronave para remover o gelo que se forma nas asas durante o voo. Este mecanismo é fundamental para a segurança, pois o acúmulo de gelo nas superfícies de controle e nas asas pode alterar significativamente a aerodinâmica da aeronave.
No entanto, o congelamento severo pode não ser completamente removido, mesmo com a ativação do sistema, resultando em acúmulo de gelo que prejudica a aerodinâmica da asa, podendo levar à perda de sustentação, conhecida como “estol”.
Como funciona o sistema antigelo?
O sistema antigelo em aviões ATR, localizado na parte superior das asas, funciona inflando uma “bota” de borracha que se expande e quebra as placas de gelo acumuladas. Este sistema é acionado periodicamente durante o voo em condições de gelo para garantir que as asas permaneçam limpas e a aeronave possa voar com segurança.
No entanto, o modelo ATR é conhecido por operar em altitudes onde as condições de formação de gelo são mais frequentes, e em situações adversas, o sistema pode não ser suficiente para evitar a formação de gelo severo.
Especialistas explicam que uma das formas de gelo ocorre quando gotículas de água super resfriada entram em contato com o bordo de ataque da asa, ou seja, a primeira parte da asa que entra em contato com o ar, congelando instantaneamente. Isso pode formar rapidamente uma camada de gelo que altera o fluxo de ar nas asas, comprometendo a segurança do voo.
Além disso, a tripulação é alertada por sinais sonoros e luminosos quando há acúmulo de gelo nas superfícies da aeronave, mas, em casos extremos, o gelo pode não ser totalmente removido. Dependendo da intensidade do congelamento e da rapidez com que o gelo se acumula, pode haver um momento crítico em que a eficiência do sistema fica comprometida, o que contribui para a perda de controle da aeronave.
Condições climáticas
Relatos de pilotos que sobrevoaram a mesma rota sugerem que a formação de gelo pode ter sido um fator no acidente. Embora nenhuma hipótese possa ser descartada, especialistas enfatizam que as condições climáticas e o congelamento das asas são áreas chave de investigação.
Meteorologistas estimaram que havia 35% de chance de formação de gelo na região no momento do acidente. O caso já está sob investigação do Cenipa, que está analisando as informações extraídas das caixas-pretas do avião. Um relatório preliminar deve ser divulgado em 30 dias.