Estive em Santiago, Chile. Linda a capital: arquitetura com notável beleza estética (venustas); trânsito organizado; belos museus (inclusive o de Pablo Neruda); bons restaurantes e tiendas (lojas). A nossa moeda (real), em proporção ao peso chileno, não está muito valorizada. No Chile a alimentação é cara, mas, roupas, pelo que percebi, são mais baratas que no Brasil. Existem políticas públicas no Chile para o controle do uso de álcool e tabaco: há locais que proíbem o uso, outros
estabelecem horários.
Sobre a “velha malandragem”, por duas vezes tentaram me sacanear, num carro de aplicativo e num mercado, devolvendo-me troco menor; porém, malandro tem em todo lugar. Em regra, senti o chileno acolhedor e um sorriso também “abre portas” para romper barreiras de etnia ou idioma. Este, no Chile, é o espanhol. Naquele país há diversidade natural e muita beleza: a Cordilheira dos Andes, o Deserto do Atacama e um extenso litoral, banhado pelo Oceano Pacífico.
Não presenciei em Santiago moradores de rua ou pessoas a esmolar. Conversei com chilenos sobre isso; disseram-me que havia ação do governo de recolhimento em abrigos de pessoas nessas condições. Como se dá efetivamente essa medida pública, não sei. Mas, se funcionar bem, poderia ser adotada no Brasil, principalmente em São Paulo, palco triste de milhares de moradores de rua.
Todavia, a minha maior surpresa e decepção com o Chile, deu-se quando visualizei Santiago, por cima, num passeio de teleférico: existe uma nítida divisão geográfica com dois lados, os quais chamarei de “A” e “B”. O lado “A”, é o que descrevi até agora nesta crônica; é aquilo que o turista vê e desfruta. O lado “B” é um choque de contradição, se comparado com o “A”.
Pude ver nele milhares de habitações precárias (favelas), sem nenhuma obra humana que chamasse a atenção, como existe no lado “A”. Conversei, também, com chilenos, sobre essa “heterogênea divisão de comunas”: disseram-me, sem muito esclarecer, que “era assim mesmo”, e que turistas não deveriam frequentar o lado “B”, por ser perigoso … Dessa situação e contexto, lembrei do Apartheid.
A desigualdade social em Santiago, assim, é geográfica e cultural: pelo que constatei, a população a aceita como é, como se “ricos de um lado” e “pobres do outro”, seja algo normal ou natural. Faltaria política pública adequada, para a diminuição da desigualdade social em Santiago? Faltaria educação? Tratar-se-ia de discriminação ou preconceito estrutural, quiçá, institucionalizado? Não sei … Mas, que choca, choca!