Na próxima sexta-feira, dia 26, Márcio Aparecido da Cruz Germano, de 44 anos, natural de Maringá/PR, será empossado como juiz do Trabalho, tornando-se o primeiro magistrado cego a atuar na 1ª instância trabalhista no Brasil. A cerimônia de posse ocorrerá em São Paulo.
Márcio enfrentou uma série de desafios ao longo de sua vida devido à falta de acessibilidade e inclusão. Ele perdeu a visão progressivamente entre os quatro e oito anos de idade devido a um erro médico. Desde a época de colégio, enfrentou a falta de acessibilidade e de material escolar em braile, situação que persistiu durante a faculdade, onde contou com a ajuda de colegas para ler os textos necessários para seus estudos.
Determinado a superar as dificuldades, Márcio passou a utilizar um computador com leitor de telas e a se beneficiar de um mercado editorial mais preparado para atender às necessidades de pessoas com deficiência visual, com livros digitais e cursos acessíveis. Essa infraestrutura permitiu que ele se dedicasse plenamente aos estudos para concursos públicos.
Em 2005, Márcio se tornou técnico judiciário e, em 2011, foi aprovado como analista judiciário. Ele atuou no Tribunal Regional do Trabalho da 9ª região (TRT-9), escrevendo minutas de votos para o desembargador Ricardo Tadeu Marques da Fonseca, que também é cego. Márcio foi aprovado no II CNU – Concurso Público Nacional Unificado para ingresso na carreira da magistratura do Trabalho.
O destaque de sua trajetória foi a prova oral do CNU, onde, pela primeira vez, sentiu que competia em igualdade de condições com outros candidatos. A acessibilidade e acolhida encontradas durante o concurso não apenas facilitaram seu processo, mas também reforçaram sua determinação.
Na Justiça do Trabalho, atualmente, há apenas dois magistrados com deficiência visual atuando no 2º grau: o desembargador Ricardo Tadeu e o desembargador Marco Antônio Paulinelli de Carvalho, do TRT de Minas Gerais. O exemplo de Márcio Germano ilumina as possibilidades para pessoas com deficiência alcançarem altos cargos no serviço público brasileiro e destaca a importância de uma infraestrutura inclusiva e acessível em todos os níveis da sociedade.