(*)Hélio Consolaro
A certeza é fatal. O que me encanta é a incerteza.
A neblina torna as coisas maravilhosas. OSCAR WILDE
A neblina tomou conta da cidade. As nuvens baixaram ao rés do chão. Não se via a um metro do nariz. O próximo passo é uma incerteza.
Assim foi terça-feira, 02/07/2024. Era dia da Sandra ajeitar a casa, veio de Bis, estava apavorada com o nevoeiro. A cada acelerada vinha o desconhecido, apesar de ser um caminho rotineiro.
A namorada também reclamou, pelo zap, de que Araçatuba parecia Londres, ou São Paulo no tempo da neblina. Eu respondi que o tempo sombrio me assanha a inspiração, é romântico. Até ouvi o lobo uivar.
No meu tempo de menino, ir à escola, a pé, andando vários quilômetros por estradas, cruzando a neblina, era uma aventura. As recomendações maternas redobravam.
A neblina vem nos lembrar que os humanos ainda somos natureza, põe no mesmo nível o lobo e o homem, contesta o cristianismo que quer esconder o nosso lado animal. Deus está em tudo, é também natureza.
A neblina não é uma enchente do Rio Grande do Sul que quis nos educar na dor. Ela nos traz solitários para dentro da nuvem rala, é um acolhimento, dizendo que nós somos parte dela.
Estranho é caminhar na densa névoa:
Solitária está cada planta ou pedra,
Nenhum arbusto enxerga o seu vizinho,
Cada um está só. HERMANN HESSE
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP