Antônio Reis (*)
Recentemente descobri a Praça Getúlio Vargas como um dos cantinhos mais aprazíveis de Araçatuba. Conheço-a há muitos anos, mas num domingo pela manhã, quando pedalava pela cidade e passei por ela, fui fisgado pelo bucólico acolhimento a madames e marmanjos com seus cãezinhos (perdão, pets), pais com filhos e seus triciclos infantis, iogues, basqueteiros e praticantes do vôlei de areia. A mim, a atração são os equipamentos de ginástica.
Passei a frequentar a Getúlio Vargas quase todos os dias, logo de manhãzinha. Exercito-me, corro em volta dos canteiros gramados, aprecio o busto do patrono e o monumento ao estudante, confiro as horas no relógio do sol que fica na sombra. Sento-me, descanso, reflito, observo as árvores e os pássaros. Fiz algumas amizades, superficiais é verdade, mas amizades. Felizmente meus exercícios físicos não exigem que me deite no chão, se não seria devorado pelas saúvas.
Apesar de agradável, a Getúlio Vargas tem seus perrengues. O principal deles para mim e meus parças da ginástica, é a falta de banheiros. A praça vizinha, a João Pessoa, também não tem casinha, como diziam os moleques do meu tempo de grupo escolar. No entorno das duas praças, só estabelecimentos comerciais, clínicas de saúde, alguns casarões, prédios residenciais. E uma delegacia de polícia.
Já me sugeriram ir à delegacia quando me vi apertado pela vontade de urinar, mas rejeitei a ideia. Vai que o delegado acordou mal dos bofes. Eu, hein? Melhor evitar B.O. O mais prudente nesta situação, embora contra vontade, é dar por encerrada a atividade física e rumar para casa. E na manhã seguinte tentar a sorte novamente, mas sem tomar o hipertensivo causador da urinação.
Não me recordo de banheiros na Getúlio Vargas, mas até bem pouco tempo existiam na João Pessoa. Praça pública precisa ter mictórios, mas os moradores e comerciantes das proximidades reclamam que noiados usam o local para consumo de drogas ou que aventureiros os transformam em motel. E por tais motivos, as casinhas vivem abandonados em completa fedentina.
Entre a necessidade da população e as queixas dos comerciantes, as autoridades do município lacram, derrubam ou deixam de construir mictórios. Ignoram que aventureiros, viciados em drogas e praticantes de atividades físicas também precisam urinar, de preferência, em lugar asseado e cheiroso. Acreditam que fechando a janela mudam a paisagem.
(*) Antônio Reis é jornalista em Araçatuba, atualmente faz assessoria de comunicação, é fotógrafo diletante e ativista cultural. Este texto consta do livro Experimentânea 15, lançado recentemente.