Tenho como felicidade a alegria interior, uma certa unidade entre o fora e o dentro, não viver em contradição. Se for isso, engorda, porque o feliz tem sua vida tranquila.
Não estou me referindo a dinheiro, nem todos põem o vil metal como componente necessário para o nirvana ou estado de graça.
Sou um humanista, quase um socialista, mas não desprezo o dinheiro. Sem ele, uma miséria; com ele, também, pois a pessoa facilmente se torna escravo dele.
A felicidade é uma busca constante do ser humano, mas afirma o poeta que ela é inalcançável, pois sempre a chutamos mais para frente. Ela é um horizonte que constantemente se afasta do caminhante.
Já houve época em que obesidade era sinal de saúde, gente com vida boa e bem-humorada. Hoje, os gordos estão em baixa, sendo vítimas da gordofobia.
A minha amiga Fátima Florentino acha que amar demais emagrece, porque o amor juvenil, por exemplo, é turbulento, irrequieto, tira o apetite. Segundo o padre Antônio Vieira, escritor brasileiro do Barroco, quem brinca com o amor, quase sempre sai chamuscado.
A pessoa com personalidade romântica é uma magra constante, cadavérica, macilenta, pois nasceu para sofrer. Nenhuma pessoa real encaixa no seu modelo. Nunca encontrará o par ideal, perfeito, imaginado.
Estou com a calça 50, entrando apertada. O meu desafio é fazer esse corpo esbelto entrar com certa folga. Por isso, minhas calças estão todas velhas. Se comprar 50, corro o risco de perdê-las; se passo para a 52, estou me dando por vencido e o corpo vai querer ocupar a folga.
Que saudade tenho dos tempos em que vivia duro, trabalhando muito. Eu era mais magro. Sou mesmo um mal-agradecido, devo a Deus pela velhice que me reservou.
Tudo é uma questão de opção. Fazer do ato de comer um sacrifício porque não deseja engordar. Tornando-se um magriça permanente, com possibilidade de viver mais anos. Ou ser um gordo feliz, comendo o que gosta no tanto que deseja, com possibilidade viver menos. Trata-se de uma escolha.
A personagem Pollyana, de Eleanor H. Porter, é um exemplo de felicidade na literatura. Ela praticava o jogo do contente, apenas via o positivo, a coisa ruim se tornava boa, mudava a interpretação.
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP