Aumentar o número de famílias que dizem “sim” e aceitam que os órgãos do ente querido que acabou de morrer sejam doados e salvem várias vidas. Este foi o objetivo de um megatreinamento que reuniu 56 profissionais de sete hospitais de Araçatuba e região, neste final de semana (4 e 5 de maio), no UniSalesiano. O curso foi ministrado por profissionais do Hospital de Base de São José Rio Preto, que pretendem repetir no Centro Oeste Paulista os resultados obtidos no noroeste do Estado.
Graças à capacitação dos profissionais de 16 hospitais desta região, o Noroeste do Estado registra 45 doadores de órgãos por milhão de habitantes, índice muito próximo da Espanha, referência para o mundo, com 49 doadores por milhão. Para se ter ideia do resultado obtido no Noroeste paulista, o Estado de São Paulo registra a média de 24 doadores por milhão e o Brasil, 20 doadores por milhão.
“Nós começamos a capacitar os profissionais em 2011, portanto, são 13 anos que realizamos este trabalho, hoje envolvendo o conhecimento, o empenho e a dedicação de colegas de 16 hospitais cientes de como abordar as famílias e, se aceita a doação, prontos para a captação dos órgãos”, ressalta o médico nefrologista João Fernando Picollo de Oliveira, coordenador da Organização de Procura de Órgãos (OPO) do Hospital de Base de Rio Preto.
Dr. Picollo ressaltou ainda a importância do diagnóstico de morte encefálica bem conduzido. “O diagnóstico de morte encefálica é um exame clínico e demais exames complementares que vão mostrar a viabilidade do cérebro. Ele é extremamente importante porque ele diferencia o coma, onde é possível reverter e a pessoa retomar a consciência”, afirmou.
Já a morte encefálica não há recuperação, a pessoa está morta, explicou o médico. “Essa capacitação se traduz lá na frente em um maior número de doadores de órgãos e os números do Brasil só tendem a crescer com essa educação continuada que nós temos no Hospital de Base que dão resultado”, disse.
O objetivo de todos mobilizados neste curso foi repetir o sucesso das instituições do noroeste paulista. No final de semana, o treinamento reuniu profissionais da Santa Casa Araçatuba, co-organizadora do evento, Santa Casa Andradina, Hospital Estadual de Mirandópolis, Hospital Regional de Ilha Solteira, Hospital Unimed Araçatuba, Santa Casa de Birigui e Hospital Unimed Birigui, instituições pertencentes ao Departamento Regional de Saúde II (DRS II).
COMUNICAÇÃO
Médico intensivista e um dos instrutores do curso, Dr. Joel de Andrade falou dos desafios no momento da comunicação com familiares e oferta da possibilidade de doarem órgãos.
“Esse treinamento teve por objetivo central o desenvolvimento da comunicação, e da comunicação empática. Nele foi possível ensinar os profissionais de saúde duas questões: como entender a família, como entender o que a família está dizendo com cada palavra, com cada gesto e depois como se fazer entender pela família”, explicou.
Segundo o médico, no Brasil existe muita confusão com isso. Muitas famílias são entrevistadas enquanto acreditam que o seu familiar ainda está vivo.
“Isso, obviamente, resulta em não autorização. O maior desafio é realizar os programas de educação, ou seja, é desenvolver essas atividades, tirar o profissional um dia da sua rotina de trabalho para discutir um tema que é tão delicado, sensível, importante, mas que precisa ser discutido”, disse Dr. Joel.
O Curso de Comunicação em Situações Críticas e de Determinação em Morte Encefálica (CDME), como é chamado o treinamento forneceu aos participantes as habilidades técnicas, éticas e jurídicas necessárias para realizar o diagnóstico de morte encefálica, orientação sobre a melhor maneira de lidar com o luto e abordar questões como a comunicação de más notícias, além do processo de solicitação de doação de órgãos, entre outros tópicos.
TAXA DE AUTORIZAÇÃO
Atualmente, no Brasil, a taxa de autorização das famílias é 55% e na região de Rio Preto esse número é de 75%. Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil é referência mundial em doação e transplantes de órgãos, garantido de forma integral e gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS), responsável por financiar e fazer mais de 88% de todos os transplantes de órgãos do país.
O Brasil realizou mais de 6,7 mil transplantes entre janeiro e setembro de 2023. Esse foi o melhor resultado dos últimos 10 anos, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde. Em números absolutos, o Brasil é o 2º maior transplantador do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.