Circo e pão. Elementos fundamentais de um governo populista, que agrada o povo com pouco, demagogicamente. Circo é a diversão, pão o alimento. Se a vida tem os dois, precisa de mais o quê?
Circo é uma casa de espetáculo. Passou a ter picadeiro há alguns séculos atrás. Diziam que ele iria sumir com o advento da televisão, mas persiste. Muitas duplas caipiras, como Tonico e Tinoco (não falo de sertanejas) começaram a sua carreira cantando nos circos.
O Coliseu, ícone de Roma, foi antes um grande circo para 150 mil pessoas, tão massivo como as novelas da Globo. Chamava-se Circus Maximus. Atualmente, há até lona de circo para alugar, basta querer brincar de circo.
Em Araçatuba, sempre aparece um circo, de vários níveis. Um chegou a falir no final da rua Pedro Janser. Quando são chiques, só a burguesia frequenta sua plateia. Até seus dirigentes têm carros de último tipo e se hospedam em hotéis. A luta de classe também está debaixo da lona.
Atualmente, está entre nós o Circus, tamanho médio, instalado precariamente naquele terreno no início da rua Marcílio Dias. Circo é mesmo sinônimo de gambiarra.
Na vida real, segundo os vizinhos Fábio e Renata, o palhaço do atual circo é um sujeito chato. Descobriram isso quando os tripulantes foram comer em seu restaurante.
Palhaço é ladrão de mulher, mas como um sujeito tão chato poderia conquistar as mulheres da cidade? Antigamente os circos eram a magia que chegavam às cidades do interior, elas estavam procurando mesmo a liberdade, um mundo diferente. Nem desconfiavam que o machismo também se manifesta no circo.
Em Mirandópolis, aconteceu ao contrário, a diretora de escola Sandra Rombi, fugiu do circo (trapezista) para ser professora. Os dois lugares apresentam a mesma magia: divertir e ensinar. Certamente, ela não era uma acrobata epilética.
Outro dia, nas imediações da lona, em Araçatuba, vi uma mãe descer do carro com três crianças. Levava-as ao circo como se estivesse indo à missa, ensinava o caminho que a sua mãe certamente a ensinou quando pequena. Era um rito. Tais crianças farão mesmo com seus filhos. Com essa tradição, o circo não vai morrer nunca.
Aproveito esta crônica para transmitir uma reivindicação do mundo circense: as prefeituras precisam ter terreno reservado aos circos em seus municípios, com toda infraestrutura para que se instalem com dignidade. Afinal, palhaçada acontece em qualquer lugar, até nas câmaras municipais.
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP