É preciso coragem para encerrar um ciclo, ainda mais quando isso envolve 79 anos de uma trajetória bem-sucedida, que começou com nosso pai, em 1945, ao conquistar a concessão para revenda de veículos Chevrolet. Graças a sua incomparável visão comercial, sempre à frente de seu tempo, e da credibilidade pessoal e familiar, a Chevrolet de Araçatuba foi consolidada como referência em Araçatuba e todo o este paulista.
Porém, desde o inicio do mês de março, a J. Dionísio Veículos deixou de existir. A bandeira foi vendida para a Javep Veículos, uma das maiores empresas do segmento no país. Estamos certos de que a robustez da Javep e o empreendedorismo incontestável de seus diretores haverão de consolidar ainda mais a marca Chevrolet na cidade e região. É o início de uma nova história, que tem tudo para ser tão próspera e bonita quanto a que se encerra.
Não foi fácil decidir pelo encerramento da J. Dionísio Veículos. Porém, consideramos Eclesiastes, que afirma: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”. Decidimos vender a empresa para seguir nossas vidas pessoais, posto que nossos descendentes já têm carreiras estabelecidas e consolidadas e por isso não teriam condições de estar à frente da empresa.
Chegou o nosso tempo para, de acordo com o escritor sagrado, nos alegrar por essa importante obra que Deus nos possibilitou realizar.
Sim, nos alegrar! Ao mesmo tempo que o girar a chave da empresa que assumimos há 44 anos, quando nosso pai faleceu, nos entristeceu, a certeza de que conseguimos multiplicar esse legado e entregar uma empresa sólida, economicamente consolidada e saudável, atualizada em relação à tecnologia e desfrutando de credibilidade plena junto aos clientes, fornecedores, colaboradores e sociedade regional nos dá a sensação de dever cumprido da forma como nosso pai nos educou e preparou. Certamente, ele está orgulhoso dos resultados que o nosso trabalho proporcionou.
Por outro lado, nos sentimos felizes pelo impacto positivo que a J. Dionísio Veículos proporcionou à economia de Araçatuba e à vida das pessoas. Em 79 anos de existência, a empresa esteve presente de forma participativa em todos os momentos importantes da história da cidade, incluindo os mais desafiadores.
Em quase oito décadas de trajetória, a empresa gerou milhares de empregos com o mérito de ter formado várias gerações de profissionais de áreas diversas, muitos dos quais atingiram a autonomia e se tornaram empreendedores. Não foram poucos também os que tiveram na J. Dionísio o primeiro emprego e conquistaram postos de destaque no mercado de trabalho e na vida pública. Nossa gratidão infinita aos colaboradores que serviram a empresa em 79 anos de existência.
Nossa gratidão, igualmente emocionada, aos milhares de clientes que nos honram com a credibilidade e, na maioria dos casos, com a fidelidade à marca Chevrolet por longos anos e repassando essa preferência aos filhos e netos.
Foi graças a essa rede, que além de apoio, também gerou amizades e relacionamentos de proximidade para toda a vida, que a família Dionísio construiu um dos ciclos mais importantes do segmento de veículos do interior paulista.
Sim, fizemos história. Mas histórias têm começo, meio e fim para que novas histórias aconteçam. E é indispensável que deixem uma marca e um legado na vida de muitas pessoas. Dessa forma, os ciclos encerrados se manterão vivos nas histórias subsequentes e farão com que tudo seja renovado sem comprometer as raízes.
Obrigado, Araçatuba!!!
José Dionísio Filho
Manoel Francisco Dionísio
Maria Margarida Dionísio Viol
A Javep não comprou apenas uma concessionária, comprou uma história de várias gerações
A origem da J. Dionísio Veículos começou há mais de um século. Exatamente 108 anos! E os caminhos percorridos até sua criação de fato se confundem com a própria história de Araçatuba, agora com 115 anos.
Em 1918, a cidade tinha apenas 10 anos quando os imigrantes portugueses Manoel Mendes Dionísio, sua esposa Maria Tereza de Jesus e cinco filhos, entre eles o pequeno José, chegaram à região. A família, que havia deixado Leiria, cidade de Portugal, em 1916, em busca de oportunidades no Brasil, se fixou primeiro em Bauru, onde permaneceu por cerca de dois anos.
Atraído por informações que corriam sobre uma nova cidade fundada no entremeio da estrada de ferro Noroeste do Brasil, que tinha novas oportunidades para os desbravadores, Manoel Dionísio decidiu vir com a família para Araçatuba e enfrentar as dificuldades próprias daquele sertão do extremo oeste paulista, como as doenças tropicais e a epidemia da gripe espanhola. Problemas enfrentados com coragem e resignação.
Manoel trabalhou inicialmente na estrada de ferro e, tempos depois, montou uma casa de comércio perto da ferrovia. Enquanto isso, o filho José crescia sempre próximo ao pai, seja ajudando no comércio ou no sítio comprado pela família. Aos 20 anos, ele já demonstrava tino comercial e fazia planos para ter o próprio negócio.
Começou sua trajetória como ajudante em uma serraria, uma das principais atividades comerciais da cidade em formação. Logo aprendeu a dirigir e ganhou do patrão a confiança para conduzir um caminhão comprado especialmente para que ele fizesse o transporte de toras.
A exaustiva rotina de levar madeira para vilarejos em expansão, que anos mais tarde se tornariam cidades importantes como Guararapes, Valparaíso e Lavínia, não impediu José de sonhar com dias melhores. Observando o vaivém de trabalhadores rurais, negociantes e famílias que chegavam em busca de oportunidades, ele teve a inspiração para o seu primeiro empreendimento: o transporte de pessoas.
Em 1928, José Dionísio comprou uma jardineira, um tipo de ônibus comum na época, e começou a fazer as viagens. Um desafio e tanto considerando as condições das poucas estradas disponíveis.
Mesmo sob a supremacia do transporte ferroviário, a jardineira de José Dionísio lhe rendeu o capital necessário para, em 1935, entrar em um ramo que revelaria sua vocação empresarial e seria a âncora de uma longa e bem-sucedida trajetória empresarial: um posto de serviços e oficina.
O local escolhido foi a praça Rui Barbosa, bem no centro da cidade. Rapidamente, o posto prosperou e cresceu, mas, por questões de segurança, foi notificado para deixar o local.
Em 1938, o posto foi transferido para uma área próxima, que no futuro seria a rua Campos Salles. No novo endereço, José Dionísio decidiu ampliar as atividades com a venda de peças para veículos. Mas o crescimento foi comprometido pela depressão econômica em consequência da Segunda Guerra Mundial, que provocou a escassez global de seus principais produtos: gasolina, diesel e peças para veículos.
Mais uma vez, José Dionísio enfrentou dificuldades para manter seu sonho, mas jamais desistiu. Conforme o conflito caminhava para o final, o mercado se tornava mais estável e ele conquistou a exclusividade da bandeira Shell, um diferencial importante que aqueceu os negócios.
Em 1945, mais uma exclusividade. Dessa vez, José Dionísio conquistou o direito de comercializar os veículos da marca Chevrolet e fundou a J. Dionísio, que se tornaria a principal atividade empresarial dele e de sua família por exatos 79 anos.
Naquele mesmo ano, ele se casou com Margarida de Paula Dionísio. O casal teve três filhos: José Dionísio Filho, Manoel Francisco Dionísio e Maria Margarida Dionísio Viol. Os filhos cresceram e foram educados sob os ideais do trabalho honesto e da busca do progresso comercial como caminho para um futuro mais próspero.
José Dionísio faleceu em 16 de setembro de 1980. Zezé, Manoel e Margarida assumiram a gestão da empresa e honraram o legado do pai. Comerciantes natos, ampliaram as atividades da concessionária e posicionaram a J. Dionísio como líder de mercado em Araçatuba em qualquer uma das muitas atividades realizadas pela empresa.
A construção de uma sede ampla e moderna na avenida Joaquim Pompeu de Toledo foi a concretização de um sonho que pai e filhos sonharam juntos. O prédio, que foi totalmente revitalizado há três anos, consolidou a história pioneira e a trajetória bem-sucedida de José Dionísio, cujo nome foi eternizado na rua que dá acesso ao interior da concessionária. A rua foi denominada José Dionísio em 1985 por um decreto assinado pelo então prefeito Sidney Cinti. Uma justa homenagem a quem trabalhou tanto pelo desenvolvimento de Araçatuba.