Intérprete judicial da Corte Superior em Tókio, no Japão, Luiz Nakano, está em Araçatuba para lançar o livro, “O Colecionador de crimes”. Ele já atuou em mais de 1,5 mil processos de estrangeiros envolvidos com o crime no Japão, a maioria brasileiros, em mais de duas décadas de atuação.
O lançamento será neste sábado em uma cafeteria na rua Regente Feijó, 274, no centro de Araçatuba, com mini-palestra e sessão de autógrafos. Nakano desembarcou nesta sexta-feira no Brasil e chegou a noite em Araçatuba, onde residem seus familiares. Assim que chegou na cidade ele recebeu a equipe do RP10.
Em “O Colecionador de Crimes”, o autor Luiz Nakano apresenta uma obra singular que lança luz sobre a complexa e polêmica questão da criminalidade estrangeira no Japão e o sistema de justiça do país.
Nakano se baseia em décadas de experiência como intérprete judicial para oferecer uma visão única dos desafios enfrentados pela polícia e pelo sistema judicial japonês ao lidar com crimes cometidos por estrangeiros. Em meio a uma narrativa cativante, ele contextualiza casos marcantes, como assassinatos, tráfico de drogas e fraudes, fornecendo uma compreensão abrangente das circunstâncias específicas que cercam cada crime
Com legislação rigorosa e medidas preventivas e educativas junto à população, o Japão se destaca pelo baixo índice de violência. Segundo o mais recente relatório do Índice Global da Paz, do Institute for Economics and Peace, o país ocupa a 9ª posição no ranking de nações mais seguras do mundo.
A abordagem japonesa à aplicação da lei é marcada por um forte sistema legal e policial, onde a ênfase na prevenção e na reabilitação dos infratores é central. No entanto, há desafios complexos, incluindo delitos relacionados ao tráfico de drogas, fraudes financeiras e, ocasionalmente, crimes violentos.
Em 2022, segundo levantamento anual do Ministério da Justiça japonês, foram registradas 601.331 violações do código penal, 5,8% a mais em relação ao ano anterior. Foi a primeira vez em duas décadas que o país viu a criminalidade aumentar. 8.548 casos, ou 1,4% do total, tiveram envolvimento de estrangeiros.
Além de relatar histórias, “O Colecionador de Crimes” oferece uma análise aprofundada dos sistemas jurídico e policial do Japão, destacando fatores culturais e sociais que influenciam a criminalidade, especialmente entre a comunidade estrangeira. Nakano também aborda questões de justiça social e discriminação, explorando o impacto da pobreza e marginalização nas taxas de criminalidade e no funcionamento do sistema de justiça criminal.
“Este livro não é apenas uma coleção de histórias de crimes”, afirma Nakano. “É um esforço para compreender as nuances da sociedade japonesa e sua abordagem única ao crime, além de servir como um alerta para todos os envolvidos no sistema de justiça e para aqueles que desejam entender mais sobre a realidade enfrentada pelos estrangeiros no Japão.” Mais do que um simples expectador, Nakano exerce papel fundamental nos julgamentos, fazendo a ponte entre juízes, promotores, advogados e réus, e ao relatar cada caso, transporta o leitor até a sala de audiência, com visão privilegiada do desenrolar dos fatos até o veredito.
O intérprete brasileiro esteve presente na audiência do ex-presidente da RenaultNissan, Carlos Ghosn. Nascido no Brasil, o empresário se tornou um grande nome no mercado após comandar as duas empresas automobilísticas por quase duas décadas. Ele foi preso em 2018 pela Justiça japonesa acusado de evasão fiscal.
Em prisão domiciliar no país, ele conseguiu fugir para o Líbano antes do final do julgamento. Nakano foi um dos três intérpretes oficiais do caso. “O Colecionador de Crimes” é leitura essencial para estudantes de Direito, profissionais da área jurídica e a todos que quiserem explorar as complexidades da criminalidade e da justiça no Japão.
Sobre o autor
Luiz Sussumu Nakano nasceu no dia 21 de novembro de 1967, na cidade de São Paulo. Radicado no Japão desde 1990, estudou economia, trabalhou em instituições financeiras e aprimorou os conhecimentos no idioma japonês. Em 1998, começou a trabalhar como intérprete judicial. Participou de diversos cursos na Corte Superior de Tóquio e na Suprema Corte até obter, em 2004, o certificado do Instituto de Pesquisa de Assuntos Jurídicos de Tóquio, do Ministério da Justiça.
Em 2009, começou a lecionar português na Academia Nacional de Polícia, além de testar a proficiência e oferecer cursos de aprimoramento de idiomas aos policiais. Nakano participou dos maiores julgamentos trabalhistas e criminais envolvendo estrangeiros no Japão. Ajudou inclusive na alteração e atualização do Código de Lei Penal, da Lei Processual Penal e da Lei de Imigração do Japão. “O Colecionador de Crimes” é o primeiro trabalho do intérprete, que publica o livro de forma independente pela Stachini Editorial.
Sobre as ilustrações
A capa do livro e as ilustrações internas são da artista Pris Lo. Radicada em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, há nove anos ela se dedica à arte visual surrealista, desenvolvendo trabalhos de colagens analógicas e digitais. “Meu objetivo com as artes é me desenvolver como ser humano e tocar o coração das pessoas.
Amante de artes desde que me conheço por gente, sempre senti um ímpeto muito forte de me expressar por meio dela”, diz. Assim como Henri Rousseau, Van Gogh, Frida Kahlo, Di Cavalcanti e Machado de Assis, Pris Lo é uma artista orgulhosamente autodidata. “A marca Pris Lo Collage é uma mistura de valores progressistas e estética tupiniquim. Ao mesmo tempo que é uma manifestação de uma insatisfação, é missão e legado. É experiência, é vanguarda, é troca, é visual, é experimental, é filosofia, é brasilidade, é reflexão e atitude”, resume