Em um depoimento à Polícia Federal, Carlos de Almeida Baptista Jr., ex-comandante da Aeronáutica, revelou detalhes sobre as tensões internas entre os altos escalões militares e o então presidente Jair Bolsonaro. O relato, tornado público após a retirada do sigilo dos documentos pelo ministro Alexandre de Moraes do STF, joga luz sobre as discussões acerca da estabilidade democrática no Brasil.
Baptista Jr. afirmou que, durante uma reunião com os comandantes das Forças Armadas, o ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, advertiu Bolsonaro sobre as consequências de tentar um golpe de Estado. Segundo o ex-chefe da Aeronáutica, o general teria sido enfático ao dizer que prenderia o ex-presidente se ele prosseguisse com seus planos de atentar contra o regime democrático.
A discussão ocorreu após o segundo turno das eleições, quando Bolsonaro aventou a possibilidade de usar medidas extremas previstas na Constituição, como a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), estado de defesa ou estado de sítio, para interferir no resultado eleitoral. Em resposta, Freire Gomes listou os atos contra a democracia que obrigariam a sua intervenção.
Além disso, Baptista Jr. descreveu outra reunião em que deixou claro para Bolsonaro que não haveria apoio das Forças Armadas para qualquer tentativa de ruptura institucional. Ele enfatizou que o então presidente não permaneceria no poder após o término de seu mandato sob nenhuma circunstância.
“Em outra reunião de comandantes das Forças com o então presidente da República, o depoente deixou evidente a Jair Bolsonaro que não haveria qualquer hipótese do então presidente permanecer no poder após o término do seu mandato. Que deixou claro ao então presidente Jair Bolsonaro que não aceitaria qualquer tentativa de ruptura institucional para mantê-lo no poder”, disse Baptista Junior à PF.
Em relação às alegações de fraude no sistema eletrônico de votação, o ex-comandante da Aeronáutica, que participou da Comissão das Forças Armadas que acompanhou as eleições, disse ter rechaçado várias teses apresentadas pela cúpula do governo Bolsonaro, reafirmando a integridade do processo eleitoral.
O depoimento de Baptista Jr. também mencionou uma reunião crucial em 1º de novembro de 2022, destinada a convencer Bolsonaro da ausência de fraude nas eleições e da necessidade de reconhecimento do resultado para acalmar o país. Apesar de inicialmente parecer resignado com o resultado, Bolsonaro teria mudado sua postura após a apresentação de um estudo pelo Instituto Voto Livre (IVL), que alegava irregularidades no pleito. Estas alegações, entretanto, foram prontamente refutadas pelas autoridades competentes.