(*) Hélio Consolaro
Para conhecer o mundo basta visitar o Brasil munido de uma lupa, se há um país diverso, é o nosso. Um grupo, mais de 2 mil pessoas, da Letônia, que fugiu do ateísmo da bolchevique, veio encontrar proteção à sua fé num pedaço de chão do Oeste Paulista na época da colonização, hoje município de Tupã. Chamou-se na linguagem deles VARPA, cujo sentido é espiga.
Eram protestantes da Igreja Batista. A ansiedade religiosa era tamanha que construíram 9 templos no povoado. Hoje, apenas uma funciona e a Assembleia de Deus invadiu.
Hoje, VARPA sobrevive do turismo, das cachoeiras do rio da Aldeia (afluente do Rio do Peixe), das trilhas e da economia alternativa. Possui pousadas, restaurantes e luxuosos hotéis.
O local tem cerca de 600 habitantes, seus velhos são brasileiros, estão na terceira geração. Em 2022, Varpa completou 100 anos.
Visitamos o distrito de Tupã em quatro amigos num carro, num domingo (03/03/2024): Hélio Consolaro, Hosanah Spíndola, Divina dos Santos e Maria de Fátima.
Como jornalista e cronista, estou com amigos explorando o turismo regional.
UMA BELA CARÍCIA
Depois de só escrever na tela, usando celular e computador, realizei meu sonho de menino, comprei uma caneta Parker tinteiro, a 21. Não é imitação, nem chinesa, mas uma caneta para um pobre realizar seu sonho, última linha. Usei muito a Pilot. Passei várias vezes na Relojoaria Rubi, Calçadão de Araçatuba. Verifiquei qual era o preço pela internet, até que resolvi passar o cartão, R$ 190,00 na maquininha sobre o balcão. Carrego-a na bolsa, com muito orgulho.
Fui alfabetizado, começando a escrever, depois do lápis, com a caneta de pau com uma pena na ponta. Quantas penas foram abertas, estragadas por aquela mão pesada de menino tabaréu, um caipira do sítio, mas peguei o jeito. Molhando o bico da danada no tinteiro. Hoje aqui escrevendo para você, caro internauta, direto no computador. Já se lê por aí que em futuro próximo as crianças serão alfabetizadas na tela do celular, sem caderno e lápis. Quando acontecer isso, minha caneta vai virar peça de museu.
Meu pai mal sabia assinar o nome, mas nunca deixou de carregar uma caneta no bolso da camisa, à vista. Morreu frustrado por não ter estudado.
Ler, estudar, escrever, ensinar é o resumo de minha vida. Ter uma caneta Parker foi uma bela carícia.
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor