A escuta clínica me dá notícias de como vivemos em uma sociedade de comparação. Mas não há nenhum tipo de equidade, senso de justiça, cabimento em nos compararmos uns com os outros.
Cada um de nós tem uma trajetória de vida única, temos marcas únicas, temos uma caixinha emocional com recursos diferentes uns dos outros, temos uma digital emocional completamente única e singular; por isso não cabe nenhum tipo de comparação.
E quando se trata de sofrimento emocional, sofrimento mental, o ato de comparação é algo que beira a desumanidade.
João e Maria podem apresentar os mesmos sintomas e o mesmo diagnóstico: depressão. Mas o que desencadeou o quadro depressivo em João é uma coisa e o que desencadeou o quadro depressivo em Maria é outra. João tem recursos emocionais para lidar com a depressão, completamente diferentes dos recursos emocionais que Maria possui para lidar com a depressão; pois esses recursos emocionais ninguém tem igual a ninguém (assim como nossa digital).
Por isso frases como “eu passei por isso e não fiquei assim”…..”eu passei por coisa pior e não fiquei assim”….”isso não é nada”…..são frases que beiram a perversidade.
Só quem está sentindo a dor, pode falar da dor que está sentindo, pois essa dor, esse sofrimento faz laço com os recursos emocionais que a pessoa tem ou não!
Se faz urgente termos claro que diante de uma pessoa em sofrimento não devemos julgar, comparar, nem invalidar a dor e o sofrer da pessoa.
Se a pessoa em sofrimento é você: não se compare, com se deixe sequestrar por comparações, não use de medidas como forte/fraco, inferior/superior, pior/melhor; pois isso só agrava o adoecimento, a dor e o sofrer.
Que possamos oferecer a nós a aos outros: empatia, acolhimento, escuta e humanização e generosidade.
A você que sofre: não se isole, peça ajuda, busque ajuda profissional, fale sobre o seu sentir.
A todos nós: zero comparações e mais HUMANIDADE.
Janeiro Branco.
Por uma cultura de cuidados com a Saúde Mental.
Setembro Amarelo: de Setembro a Setembro.
(*) Eliane Cabral é psicóloga clínica, psicanalista e especialista em prevenção e pósvenção em suicídio