No coração do carnaval de São Paulo, um enredo provocou mais do que aplausos e admiração: gerou um intenso debate sobre os limites da expressão cultural e o respeito pelas forças de segurança. O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) emitiu, nesta segunda-feira (12), uma nota de repúdio contra a escola de samba Vai-Vai, acusando-a de demonizar a polícia em seu desfile no Sambódromo do Anhembi.
“É de se lamentar que o Carnaval seja utilizado para levar ao público mensagem carregada de total inversão de valores e que chega a humilhar os agentes da lei”, destaca o sindicato.
A polêmica centra-se no segmento “Sobrevivendo no Inferno”, apresentado na noite de sábado (10), onde componentes da escola usaram chifres que remetiam à figura de um demônio, numa alusão clara à polícia, conforme interpretação do Sindpesp. A nota do sindicato expressa “extrema indignação” por considerar que o enredo atuou com escárnio contra os agentes da lei, tratando-os de forma vil e desrespeitosa.
Em defesa, a Vai-Vai argumentou que seu enredo do Carnaval deste ano constituiu um manifesto cultural, criticando a exclusão de expressões culturais como o hip hop na cidade de São Paulo. A escola enfatizou que o desfile procurou homenagear e dar voz a artistas marginalizados, inspirando-se no álbum “Sobrevivendo no Inferno” dos Racionais MCs, uma obra que aborda temas como racismo, miséria e desigualdade social.
A escola de samba destacou que o álbum dos Racionais MCs, lançado em 1997, é um marco na música brasileira, reconhecido pela revista Rolling Stone Brasil como um dos 100 melhores discos da música brasileira. A Vai-Vai ressaltou que sua apresentação não teve a intenção de atacar individualmente a polícia, mas sim de inserir o álbum e seus temas no contexto histórico apropriado, refletindo sobre a segurança pública e a marginalização do movimento hip hop na década de 1990.