O jardineiro Vinícius Domingos da Silva, 45 anos, mais conhecido como Viola, afirma ter sido exonerado do cargo comissionado que ocupava na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Araçatuba, após se negar a devolver parte de seu salário ao vereador que o indicou para a função.
O caso caracteriza as chamadas “rachadinhas”, prática de corrupção que consiste no repasse de parte dos salários de ocupantes de cargos públicos como exigência para exercer a função.
A denúncia foi feita nesta sexta-feira (12) ao radialista Marco Serelepe, que apresenta o Jornal de Verdade, na Rádio Cultura FM. O nome do vereador não foi mencionado, mas sabe-se que pertence à bancada evangélica da Câmara de Araçatuba.
PROMESSA DE CARGO
Conforme Viola, a sua relação com o parlamentar teve início dois anos antes das eleições municipais de 2020. Na época, ele ajudava o então aspirante ao cargo de vereador em ações sociais, buscando doações de alimentos para distribuí-los a famílias carentes.
Por este trabalho, recebeu a promessa de que teria um cargo na administração municipal, caso o postulante a vereador fosse eleito. Após a vitória nas urnas e posterior posse do parlamentar, Viola acabou sendo nomeado em outubro de 2021, exatamente um ano depois do pleito de 2020.
Ele foi lotado no cargo de Diretor Ambiental e Animal da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade, com um salário de aproximadamente R$ 7 mil.
PIZZAS
A partir daí, começaram as cobranças. O jardineiro conta que era obrigado pelo vereador a vender vales-pizzas no valor de R$ 30,00 cada um. Caso contrário, era constrangido e acusado de não agir como um membro do grupo do parlamentar.
Para evitar a situação embaraçosa, Viola acabava comprando os cupons, desembolsando quantias de R$ 600,00 a R$ 900,00 a cada dois meses, período em que as pizzas eram colocadas à venda. Nos vales-pizzas, havia o carimbo da 17ª Igreja do Evangelho Quadrangular, localizada na rua Pedro Janser, 1.206, bairro Boa Vista.
RACHADINHA E EXONERAÇÃO
Pouco mais de dois anos após ter sido nomeado, Viola disse ter sido procurado pelo vereador com uma proposta que ele classificou como inadmissível. “O vereador queria que eu passasse parte do meu salário para ele, coisa que eu não aceitei”, contou. Com a sua recusa, o jardineiro acabou sendo exonerado, no dia 30 de dezembro de 2023.
Viola conta que só decidiu tornar pública a proposta do vereador e sua consequente exoneração após questionamentos por parte de amigos e conhecidos. “Decidi me manifestar porque muita gente está achando que eu fiz alguma coisa errada, porque, de repente, do nada, eu fui mandado embora. Só quero esclarecer o que aconteceu”, justificou.
O ex-Diretor Ambiental e Animal disse, ainda, que tentou, várias vezes, conversar com o vereador, mas não obteve retorno. “Ele usa o nome de Deus toda hora, mas todos nós somos filhos de Deus. Eu só falo o que eu sei e o que eu posso provar. Nunca mais quero saber de política”, afirmou Viola, que voltou a trabalhar com jardinagem após a sua exoneração.