O recente relatório ‘Desigualdade S.A.’, lançado pela Oxfam, traz dados alarmantes sobre a disparidade econômica global. Desde 2020, as fortunas dos cinco homens mais ricos do mundo mais do que dobraram, atingindo um valor impressionante de US$ 869 bilhões, crescendo a uma taxa estonteante de US$ 14 milhões por hora. Esta ascensão contrasta fortemente com a realidade de quase 5 bilhões de pessoas que, no mesmo período, enfrentaram um empobrecimento crescente.
Entre os mais ricos, encontram-se nomes como Elon Musk, com um patrimônio de US$ 242 bilhões, seguido por Bernard Arnault e família, Jeff Bezos, Larry Ellison e Warren Buffett, formando um grupo cuja riqueza representa um marco na história econômica moderna. Esta concentração de riqueza não é apenas um fenômeno isolado, mas uma tendência que, se mantida, poderá resultar no surgimento do primeiro trilionário em apenas uma década.
O relatório destaca a preocupante previsão de que a erradicação da pobreza pode levar mais de 200 anos, evidenciando uma disparidade que se aprofunda a cada dia. A situação no Brasil reflete esse cenário global: a renda das pessoas brancas é em média 70% superior à das negras, e a fortuna dos cinco bilionários brasileiros mais ricos aumentou 51% desde 2020. A fortuna da pessoa mais rica do Brasil é equivalente ao que possui a metade mais pobre da população, uma estatística que ilustra vividamente as desigualdades sociais e econômicas do país.
Em um contexto mais amplo, o relatório foi divulgado em um momento oportuno, coincidindo com o início do Fórum Econômico Mundial de 2024 em Davos. O documento da Oxfam lança luz sobre a crescente influência e poder das grandes corporações, lideradas por bilionários. Sete das 10 maiores empresas globais têm um bilionário como CEO ou principal acionista, com um valor combinado superior ao PIB de todos os países da África e América Latina.
Além do levantamento econômico, a Oxfam enfatiza o impacto do poder corporativo desenfreado sobre as democracias e os direitos humanos. A organização critica a concentração de poder nas mãos de poucos, que não só canaliza a maior parte da riqueza gerada para uma ínfima parcela da população, mas também compromete a integridade das democracias e os direitos civis. A questão dos monopólios farmacêuticos, que limitaram o acesso às vacinas contra a COVID-19, é citada como um exemplo de como o poder corporativo pode agravar as desigualdades e a injustiça social.
Diante desse cenário, a Oxfam propõe ações concretas para os governos. A implementação de impostos permanentes sobre riqueza e lucros excedentes é uma das medidas sugeridas para equilibrar a distribuição de renda. Além disso, a organização defende a democratização das corporações, promovendo a propriedade democrática dos negócios e assegurando salários justos para trabalhadores. Estas mudanças, segundo a Oxfam, são passos fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Os dados do relatório também revelam que, das 96 maiores empresas do mundo, apenas uma pequena fração está comprometida com o pagamento de salários justos. A estimativa é que seriam necessários 1.200 anos para que uma trabalhadora média do setor de saúde acumulasse a riqueza que um CEO médio de uma grande corporação ganha em um ano. Essa desproporção salarial reflete a urgência em repensar as estruturas econômicas e as políticas de redistribuição de riqueza.