O hacker araçatubense Patrick César da Silva Brito foi ouvido nesta quarta-feira (27), pela comissão temporária da Câmara de Bauru, e confirmou aos vereadores que ele foi contratado pelo cunhado da prefeita Suéllen Rosim (PSD), Walmir Henrique Vitorelli, para monitorar desafetos do governo municipal. Patrick, que está na Sérvia, foi ouvido pela internet. Clique aqui e veja a íntegra da oitiva.
Em pouco mais de duas horas e meia de oitiva, o hacker admitiu que foi pago para espionar a vereadora Estela Almagro (PT) e o jornalista Nelson Itaberá, ambos desafetos políticos de Rosim. Ele contou aos vereadores que receber cerca de R$ 1,5 mil pelo serviço e que a quantia foi paga por Walmir Vitorelli, direto da conta dele.
“O Walmir entrou em contato comigo explicou que era cunhado da Prefeitura de Bauru e que tinha mostrado o material que eu tinha enviado para ele por e-mail para a prefeita e que ela tinha gostado muito. E ele pediu para que eu hackeasse a Estela”, disse Patrick durante o depoimento.
Patrick contou o procedimento usado para hacker a vereadora Estela. Ela ficou sem o controle de sua página de Facebook por cerca de quatro meses e só conseguiu reaver a senha e o login após uma ação judicial.
Questionado sobre como conheceu Walmir, Patrick contou que foi apresentado à ele por um policial civil que trabalha na Deic (Divisão Especializada de Investigação Criminal) de Araçatuba. Esse policial é enteado da mãe de Walmir. Na época, Patrick alega que prestava serviço para a Polícia Civil de Araçatuba em investigações em curso, sobretudo na Operação Raio-X.
Ele diz que seu trabalho era hackear alvos da operação. Ele citou como exemplo o ex-governador de São Paulo, Márcio França, hoje Ministro do Empreendedorismo do governo Lula e o governador reeleito do Pará, Helder Barbalho. Ambos foram investigados na Operação Raio-X e sofreram mandados de busca e apreensão. A revista Piauí fez uma reportagem sobre essa ligação entre o hacker e a Polícia Civil de Araçatuba na edição de fevereiro de 2023. Clique aqui e leia a íntegra.
Outros vereadores
Ainda durante a oitiva, Patrick admitiu que havia sido sondado por Walmir para hackear todos os 17 vereadores da câmara de Bauru e o vice-prefeito Orlando Costa Dias e que isso só não ocorreu por falta de acerto financeiro. Ele diz que pediu R$ 10 mil pelo serviço, mas que a quantia não foi paga. Diante das informações prestadas pelo hacker, os vereadores da comissão se mostraram chocados. A apuração segue em andamento. Citados pelo Hacker, Walmir Vitorelli e a prefeita Suellen Rosim foram convidados pela comissão para esclarecimentos na Câmara.
A comissão é formada pelos vereadores Coronel Meira (União Brasil), Guilherme Berriel (MDB), Eduardo Borgo (Novo), Estela Almagro (PT) e Chiara Ranieri (União Brasil). O colegiado foi instaurado pela Câmara no início de novembro e é responsável pela interlocução com a Polícia Civil e o Ministério Público (MP), que investigam as denúncias de espionagem.
Em nota distribuída à imprensa em novembro, Walmir negou ter contratado o hacker. Ele admitiu que manteve contato com Patrick, mas garantiu que não sabia das atividades ilegais do hacker. A versão foi contestada por Patrick durante a oitiva nesta quarta-feira.
Também em nota à imprensa, a prefeita Suéllen Rosim disse que nunca se envolveu em atos de espionagem e que medidas judiciais serão adotadas diante de qualquer insinuação que a ligue a esses fatos.
Prisão
O hacker araçatubense foi preso em Belgrado, na Sérvia, em dezembro de 2022, após a Interpol cumprir um mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça de Araçatuba. O motivo foi a invasão das redes sociais do prefeito Dilador Borges (PSDB) e da primeira-dama Deomerce Damasceno e a prática de extorsão.
Após ser descoberto pela Polícia Civil de Araçatuba, o hacker teria sido cooptado por um delegado para ajudar nas investigações da Operação Raio X, deflagrada em 2020, para apurar desvios de recursos públicos da saúde.
Na sequência, Patrick Brito foi para a República da Sérvia, onde acabou preso em dezembro de 2022. Ele foi solto em 22 de dezembro de 2023, porque, pelas leis daquele país, uma pessoa só pode ficar presa preventivamente por um ano.
Para a sua liberdade, no entanto, o hacker teve de aceitar medidas cautelares que incluem o recolhimento de seus passaportes e a proibição de deixar o país. Enquanto isso, aguarda o julgamento de seu pedido de asilo.