Uma questão do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) relacionada ao agronegócio está dando o que falar em Araçatuba. Primeiro, os vereadores aprovaram um requerimento de repúdio ao Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) e ao MEC (Ministério da Educação), responsáveis pela prova. Depois, foi a vez do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) repudiar a iniciativa dos parlamentares, que classificou como “negacionismo científico”.
A autoria do requerimento, aprovado durante a 36ª sessão ordinária do ano, realizada na segunda-feira (13), é do vereador Lucas Zanatta (PL), que considerou uma questão da prova de Ciências Humanas, aplicada no dia 5 de novembro, mal formulada e de cunho “nitidamente ideológico”. A pergunta referia-se à atuação do agronegócio no Cerrado e trazia um texto que apresentava fatores negativos do setor, como a “violência simbólica” e as “chuvas de veneno”.
“Não podemos nos calar, pois temos orgulho de quem somos e o que fazemos com o Brasil. Adolescentes são vulneráveis. Acham que sabem tudo, mas caem na mão dessa milícia, que não tem compromisso com a educação, mas sim com partido político”, criticou o vereador Lucas Zanatta em plenário. “O agro é o maior e mais significativo negócio do nosso país”, concordou o vereador Dr. Jaime, que também se pronunciou.
A pedido do autor, cópias do requerimento de repúdio serão encaminhadas às Câmaras de Vereadores da região, aos órgãos de imprensa local, à Assembleia Legislativa paulista, à Câmara dos Deputados, ao Senado Federal, ao Inep e ao MEC.
REPÚDIO AO REPÚDIO
Ao tomar conhecimento do requerimento de repúdio, o presidente do PSOL, professor Matheus Lemes, resolveu se pronunciar e emitiu uma nota repudiando a iniciativa do vereador.
“Consideramos que a posição de Zanatta reafirma a defesa do negacionismo científico, uma vez que instituições renomadas como a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (Anpege), que representa mais de 70 programas acadêmicos, e a Associação dos Geógrafos Brasileiros endossam a questão contestada por extremistas de extrema-direita”, diz um trecho do documento.
Para Lemes, as falas proferidas demonstram desconhecimento da formulação e dos objetivos do Enem. “Trata-se de uma avaliação cujas pesquisas citadas foram realizadas por pesquisadores renomados e seguiram todos os procedimentos necessários para comprovação de teses. Tais questões possuem o objetivo de averiguar a capacidade de interpretação textual do estudante, independente da opinião que possuir do assunto abordado”, continua a nota.
Leia abaixo a nota emitida pelo PSOL de Araçatuba:
“NOTA DO DIRETÓRIO MUNICIPAL DO PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE DE ARAÇATUBA
A executiva do PSOL Araçatuba manifesta repúdio às falas do vereador Lucas Zanatta (PL) proferidas ontem (13/11) na 36ª Sessão Ordinária contra ao INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), Ministério da Educação e professores pesquisadores que formulam o Exame Nacional do Ensino Médio. A ação contou com o apoio de todas e todos os parlamentares da Câmara Municipal de Araçatuba.
Na ocasião, o vereador alega que houve questões “mal formuladas” e de “nítido cunho ideológico” escritas por uma “milícia, que são poucos, de professores que não têm compromisso com a educação”.
Consideramos que a posição de Zanatta reafirma a defesa do negacionismo científico, uma vez que instituições renomadas como a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (Anpege), que representa mais de 70 programas acadêmicos, e a Associação dos Geógrafos Brasileiros endossam a questão contestada por extremistas de extrema-direita.
Além do negacionismo, as falas proferidas demonstram desconhecimento da formulação e dos objetivos do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) pois trata-se de uma avaliação cujas pesquisas citadas foram realizadas por pesquisadores renomados e seguiram todos os procedimentos necessários para comprovação de teses. Tais questões possuem o objetivo de averiguar a capacidade de interpretação textual do estudante, independente da opinião que possuir do assunto abordado.
É diante dessas falas absurdas que reafirmamos nossa incansável defesa dos professores, pesquisadores e de todos os entes que produzem ciência no Brasil. O negacionismo foi derrotado nas urnas em 2022 e trabalharemos para derrotarmos mais uma vez aqueles que desprezam os fatos e a ciência para agradar a bolha reacionária cultivada com grande dedicação por Jair Bolsonaro ao longo dos últimos quatro anos. Negacionismo nunca mais!”