O Evangelho (Novo Testamento) segundo Mateus 5:39, traz a mensagem de Jesus, o Cristo: “Eu porém digo-vos, que não resistais ao que vos fizer mal; mas se alguém te ferir na tua face direita, oferece-lhe também a outra”. No versículo 44, do mesmo capítulo (5), anunciou o Cristo: “Mas eu vos digo: Amai a vossos inimigos, fazei o bem ao que vos têm ódio e orai pelos que vos perseguem e caluniam”.
Numa interpretação literal ao versículo 39, o ofendido, ao “dar a outra face” ao ofensor, corre o risco de sofrer nova agressão, como se a atitude deste fosse correta. Outra interpretação, também literal, é que a vítima, ao oferecer a outra face, instiga a violência do seu algoz ou até a ironiza. O normal em uma situação como essa, é o revide da agressão. Todavia, não é isso que Jesus Cristo ensinou nessas mensagens. Jesus usava de parábolas ou metáforas
para externar seus ensinamentos aos seus discípulos e seguidores.
Portanto, não basta somente a interpretação literal de seus ensinamentos. No versículo 38, do mesmo capítulo (5), de Mateus, está a explicação de Jesus do “dar a outra face”: Jesus não concorda com a Lei de Moisés, do “olho por olho, dente por dente” (Êxodo, 21:24). Esta sim, é uma lei de revide ou de revanche, em fazer contra o ofensor o mesmo que ele fizera com a vítima. Essa Lei de Moisés, como a antecedente Lei de Talião do código babilônico de Hamurabi (1770 a.C), era a forma de justiça da época, em que a punição era “proporcional” ao crime cometido: por
exemplo, se alguém furtasse, a mão do furtador era decepada.
Porém, a sociedade evoluiu e castigos físicos não funcionam para a ressocialização do delinquente. Na Epístola de São Paulo aos Romanos, 12:21, tem-se a mensagem complementar e esclarecedora do Cristo sobre o assunto: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”. A mensagem de Jesus na sua essência, não é incentivar a covardia ou deixar de se defender; quis ele romper o ciclo de violência, recomendando mansidão e paz. Quem sofre agressão e revida gera um ciclo de violência: violência gera violência! Já uma postura pacífica diante de uma ofensa surpreenderá o agressor, que poderá repensar a atitude.
Mas, então, como lidar com os malvados que agridem e ofendem? Sob o ensinamento de Jesus Cristo, deve-se resistir ao mal, fazendo o bem; este interrompe aquele ciclo. Isso, repita-se, não significa covardia; é mudança de postura ou atitude, de surpreender o maldoso com bondade. A resistência ao mal com bondade é um ato de amor e de inteligência; é vencer o ódio com amor (oração de São Francisco de Assis). Na prática, é usar de meios não-
violentos na solução de conflitos.
Mahatma Gandhi e Martin Luther King são alguns líderes do pacifismo moderno, que defenderam a libertação de seus povos e lutaram contra o preconceito usando de métodos não-violentos. Jesus Cristo semeou e difundiu essa cultura de paz. Essa postura/cultura pacífica pode evitar conflitos individuais, guerras e polarização política no mundo. Jesus Cristo, seja como figura histórica ou divindade, ensinou à humanidade a criar pontes de amor, não muros de ódio.
Jesus foi o maior exemplo de “dar a outra face”, aceitando morrer para o bem da humanidade, enquanto a sociedade da época (agressora) injustamente o condenou à morte. Fica aqui a sugestão e o desafio: cada um tentar vencer o mal dentro de si. “Dar a outra face”, enfim, é a opção do amor (bem) contra o mal, enquanto seguir o “olho por olho” implica em continuarmos cegos.
*Adelmo Pinho é promotor de justiça em Araçatuba e articulista do RP10