Em meio à pandemia de covid-19, uma epidemia paralela de desinformação vem intensificando suas garras, desencadeando consequências significativas nos serviços de saúde e no comportamento da população. Esse fenômeno foi detalhadamente analisado na Jornada Nacional de Imunizações, onde pesquisadores e profissionais de saúde discutiram o aumento expressivo da circulação de informações falsas e suas implicações.
Isabela Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), comparou a desinformação a uma doença altamente transmissível, destacando a urgência de medidas preventivas e ações planejadas para combatê-la. “A desinformação pode causar doenças, pode matar, deve ser considerada uma doença e merece prevenção, vigilância, ações planejadas”, afirmou Ballalai.
O crescimento dos movimentos antivacina também foi pauta da discussão, com destaque para o seu fortalecimento na América Latina durante a pandemia, inclusive recebendo apoio e recursos transnacionais e do governo brasileiro. A necessidade de comunicação eficaz torna-se ainda mais crucial, dada a limitação de acesso à internet, que restringe a disseminação de informações confiáveis e fomenta a propagação de desinformação nas redes sociais.
Casos de estresse vacinal, decorrentes de reações psicológicas à vacinação, têm sido mal interpretados e utilizados em campanhas de desinformação. No Acre, um exemplo flagrante desse problema levou a cobertura vacinal do HPV a menos de 1%, causando hesitação vacinal reativa transmissível. “Toda vez que ocorre um evento com repercussão, você tem uma infodemia”, explica um especialista, referindo-se à propagação aguda de informações falsas.
A desinformação também influenciou a confiança nas vacinas, não apenas em relação à covid-19, mas se estendendo a outras, como a vacina de HPV. “A covid abalou a confiança em todas as outras vacinas”, revela um estudo apresentado na jornada. O impacto foi sentido até mesmo entre pediatras, com a pesquisa identificando uma correlação entre crenças falsas sobre vacinas covid-19 e desconfiança em relação a vacinas de forma geral.
O estudo em questão ainda evidenciou a existência de dois perfis principais entre os pediatras: aqueles que confiam fortemente nas vacinas e aqueles que são neutros ou desconfiam delas. A experiência em serviços de saúde durante a residência médica foi identificada como um fator que pode reforçar a confiança nas vacinas.
“Isso é algo que ainda estamos discutindo. Quem passou direto da faculdade para o atendimento talvez não teve esse contato principalmente com o atendimento na rede pública”, diz. “Quem não fez residência pode ter visto nos jornais, mas não viu crianças sofrendo em hospitais”.