O caso do influencer Agenor Tupinambá, que criou a capivara Filó desde pequena e teve o animal retirado de sua propriedade, em Manaus, pelo Ibama comoveu muita gente no Brasil. O fato, no entanto, dividiu opiniões, porque é crime manter animal silvestre como doméstico. O tema é pertinente porque, nesta época do ano, as capivaras tendem a ser vistas com mais frequência. Foi o que ocorreu na noite de sábado (26), no bairro Vicente Grosso, em Araçatuba, onde havia um bando de aproximadamente 30 roedores, em uma área de preservação permanente (APP).
Com a queda nas temperaturas, estes animais tendem a sair das partes baixas dos corpos hídricos e subir os ribeirões e córregos, porque seu ciclo reprodutivo ocorre entre o meio do inverno e o meio da primavera, explica o secretário municipal de Meio Ambiente de Araçatuba, Lucas Proto, que é engenheiro florestal. Com o deslocamento destes grandes roedores, é mais frequente avistá-los, principalmente entre o anoitecer e o amanhecer, quando são mais ativos.
Conforme ele, as capivaras fazem isso há milhões de anos. Na época da seca, que coincide com o inverno, elas procuram lugares mais tranquilos para reproduzir e criar os seus filhotes. “Diferentemente do tempo das monções, quando elas e a maior parte da fauna caçam, pescam, nadam e são empurradas pelas cabeças d’água”, explicou.
No sábado (26), um leitor do RP10 flagrou um bando de capivaras em uma APP localizada no bairro Vicente Grosso, próximo ao Ribeirão Baguaçu, em frente à rua dos Fundadores, e acendeu o alerta para o risco de acidentes, tanto para os animais quanto para o homem. Por isso, a Secretaria de Meio Ambiente está providenciando, em parceria com a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana, placas de “Dirija Com Cuidado” e de avisos da existência de capivaras na área.
“As capivaras estão onde elas deveriam estar, caminhando pelas APPs do Ribeirão, mas precisamos ter alguns cuidados para evitar acidentes”, afirmou Proto. Algumas placas já foram instaladas na avenida Waldir Felizola de Moraes e também na Rua Etelvino Ferreira dos Santos, pontos onde é comum deparar-se com as simpáticas capivaras.
No entanto, novas placas deverão ser colocadas, segundo Proto, porque há grande risco de acidente. “Nesta época de reprodução, aumenta o fluxo de capivaras, por isso acrescentamos mais placas com avisos aos motoristas e pedestres”, informou.
Mais do que dirigir com cuidado, as pessoas também devem ter em mente que não devem colocar a mão, não apreender o animal no carro para soltar depois, enfim, não mexer com a fauna, tanto pela segurança da população quanto pela do animal. “Isso dá cadeia”, alerta o secretário.
A capivara é um herbívoro generalista que se alimenta de gramíneas e de vegetação aquática, mas que se adapta facilmente a diversos produtos agrícolas, como milho, cana-de-açúcar, arroz e outros. Esta característica confere ao animal grande capacidade de adaptação a ambientes alterados pelo homem, como áreas urbanas e agrícolas.
De acordo com o secretário, as capivaras são animais sinantrópicos, ou seja, são aqueles que se adaptaram a viver junto ao homem, e que mesmo que a cidade ocupe este local, ele continua a viver ali. “A nós, moradores da cidade, nos resta conviver com elas por fatores legais e também fatores ambientais’, destaca.
Em caso de encontrar uma capivara ou qualquer animal silvestre próximo a uma residência, a orientação é acionar o Corpo de Bombeiros e a Polícia Ambiental, os únicos órgãos que têm por lei o direito de pegar esses animais e soltar na natureza. Ou, nos casos em que isso não é possível, levam para o zoológico municipal, onde são destinados a tratamento perpétuo.
Lei é severa para quem matar ou prejudicar capivaras
A convivência com as capivaras, nas áreas urbanas e também na zona rural, é regulamentada pela Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Ela dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.
Em seu artigo 29, a lei prevê que matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida, gera uma pena de detenção de seis meses a um ano, e multa.
Filó
O caso da Capivara Filó virou ocorrência policial. O influencer Agenor Tupinambá usava suas redes sociais, com o Instagram e Tik Tok, no qual tem milhões de seguidores, para mostrar, entre outras coisas, a rotina de uma capivara que mantinha como animal doméstico, que ganhou o nome de Filó.
Agenor foi notificado pelo Ibama após denúncias de abuso, maus-tratos e exploração animal. Por causa disso, ele foi multado em R$ 17 mil. Também foi obrigado a apagar todos os vídeos que havia publicado com Filó e teve o animal apreendido. Dias depois, conseguiu, na Justiça, recuperar a capivara, mas o órgão ambiental deve recorrer da decisão.