A Vigilância Epidemiológica da Bahia emitiu um alerta sobre um surto da doença de Chagas transmitida por via oral. No primeiro semestre, foram confirmados cinco casos e uma morte em decorrência da doença.
Causada pelo parasita Trypanosoma cruzi, a doença de Chagas é tradicionalmente transmitida pela picada do inseto conhecido como barbeiro. No entanto, nos últimos anos, a doença tem mudado seu perfil de transmissibilidade, com a maioria dos casos – cerca de 70% – resultando do consumo de alimentos contaminados, principalmente açaí e caldo de cana (garapa).
O açaí industrializado, que passa por um processo de aquecimento, resfriamento e lavagem que inativa o protozoário, não é a fonte do problema. O risco está no consumo do açaí caseiro, preparado por pequenos produtores e vendido in natura. A garapa artesanal também pode ser uma fonte de contaminação quando o barbeiro ou suas fezes são moídos juntamente com a cana-de-açúcar.
A cardiologista Veridiana Silva de Andrade, professora na Unifesp e diretora da Sobrac (Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas), afirma que a principal forma de evitar a transmissão oral da doença é por meio da higienização dos alimentos e evitando o consumo daqueles sem procedência conhecida ou de locais cuja limpeza ou maneira de preparo sejam duvidosas.
A infectologista Valeria Paes, do Hospital Sírio-Libanês, em Brasília, também orienta a verificação da aprovação da Vigilância Sanitária para a manipulação e venda de alimentos nos estabelecimentos, enquanto Fernando Bruetto Rodrigues, cardiologista do Hospital de Base de São José do Rio Preto (SP), sugere a busca por informações sobre a procedência do alimento e a verificação do selo da Vigilância Sanitária nos produtos.
Em regiões como a Bahia, onde houve o surto da doença, ações públicas da Vigilância Sanitária e outros órgãos fiscalizadores têm sido fundamentais para o controle da proliferação da doença, com foco na inspeção dos alimentos em todas as etapas de produção suscetíveis à contaminação.
A doença
A doença de Chagas, também conhecida como tripanossomíase americana, é uma infecção parasitária causada pelo Trypanosoma cruzi. Ela é nomeada em homenagem a Carlos Chagas, o médico brasileiro que descobriu a doença em 1909. A infecção é mais comumente transmitida aos seres humanos pela picada de um tipo de inseto conhecido como “barbeiro”, mas também pode ser adquirida através da ingestão de alimentos contaminados, transfusões de sangue, transplante de órgãos e de mãe para filho durante a gestação.
A doença de Chagas possui duas fases: a fase aguda e a fase crônica.
Fase aguda: A fase aguda geralmente ocorre logo após a infecção e pode durar algumas semanas a meses. Muitas pessoas não têm sintomas ou apresentam apenas sintomas leves, como febre, fadiga, dores no corpo, dor de cabeça, erupção cutânea, perda de apetite, diarreia e vômito. Além disso, pode ocorrer inchaço no local da infecção, e em alguns casos pode-se observar sinais como o “sinal do Romaña”, que é o inchaço dos olhos de um lado do rosto, ou o “sinal de Chagoma”, que é uma lesão cutânea ou inchaço no local da picada do inseto.
Fase crônica: A fase crônica pode ocorrer anos ou décadas após a infecção inicial. A maioria das pessoas nesta fase pode não ter sintomas ou complicações, no entanto, cerca de 20 a 30% das pessoas infectadas podem desenvolver complicações graves que podem ser potencialmente fatais. Essas complicações incluem cardiopatia chagásica, que pode causar insuficiência cardíaca, arritmias, e até mesmo morte súbita; e megavísceras, como megaesôfago e megacólon, que são o alargamento do esôfago e do cólon, respectivamente.
O diagnóstico da doença de Chagas é geralmente feito através da detecção de anticorpos contra o Trypanosoma cruzi no sangue. O tratamento é mais eficaz quando iniciado durante a fase aguda, mas também pode ser benéfico em pessoas na fase crônica da doença. A prevenção da doença de Chagas envolve o controle dos insetos barbeiros e a triagem de sangue para transfusões e transplantes de órgãos.