O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) abriu um processo para investigar a propaganda de um automóvel que usa a inteligência artificial para reproduzir a imagem da cantora Elis Regina, já falecida. Na peça publicitária, Elis aparece dirigindo uma Kombi antiga e fazendo um dueto com sua filha, Maria Rita, que dirige o modelo mais recente do veículo.
A ação do Conar ocorreu após questionamentos de consumidores sobre a ética do uso de inteligência artificial para reproduzir a imagem de uma pessoa já falecida. O processo também examinará a legalidade dos herdeiros autorizarem o uso da imagem de uma pessoa falecida em cenas ficcionais, criadas por meio de IA, nas quais a pessoa em questão nunca participou.
Segundo o Conar, a investigação será pautada pelos “princípios de respeitabilidade, no caso o respeito à personalidade e existência da artista, e veracidade”. Também será avaliado se a publicidade deveria ter alertado os espectadores de que usou Inteligência Artificial para criar a cena.
A propaganda, além de gerar grande comoção entre os fãs de Elis Regina, também incitou debates polêmicos. Alguns apontam para o fato de que tanto a cantora quanto Belchior, autor da música usada na trilha sonora, foram opositores da ditadura militar, enquanto a empresa de automóveis teria sido apoiadora.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, João Marcello Bôscoli, filho mais velho de Elis Regina, disse que ficou muito emocionado com o comercial e não concorda com as críticas sobre a associação da imagem da cantora com a marca que teve ligação com o regime.
O Conar estima que o caso seja julgado em até 45 dias.
Veja o vídeo
Representação ética
Leia a íntegra da nota do Conar:
“O Conar abriu hoje, 10 de julho, representação ética contra a campanha ‘VW Brasil 70: O novo veio de novo’, de responsabilidade da VW do Brasil e sua agência, AlmapBBDO, motivada por queixa de consumidores.
Eles questionam se é ético ou não o uso de ferramenta tecnológica e Inteligência Artificial (IA) para trazer pessoa falecida de volta à vida como realizado na campanha, a ser examinado à luz do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, em particular os princípios de respeitabilidade, no caso o respeito à personalidade e existência da artista, e veracidade.
Adicionalmente, questiona-se a possibilidade de tal uso causar confusão entre ficção e realidade para alguns, principalmente crianças e adolescentes.
A representação será julgada nas próximas semanas por uma das Câmaras do Conselho de Ética do Conar, garantindo-se o direito de defesa ao anunciante e sua agência. Em regra, o julgamento é efetuado cerca de 45 dias após a abertura da representação.
O Conar aceita denúncias de consumidores, assim como outras manifestações sobre a peça publicitária, bastando que sejam identificadas. Em obediência à LGPD a identidade dos denunciantes é protegida.”