A Santa Casa de Araçatuba e a Prefeitura Municipal assinaram nesta terça-feira (13) um termo de parceria visando aumentar a oferta de córneas ao Sistema Estadual de Transplantes (SET).
Pelo convênio, a Prefeitura de Araçatuba, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, vai dar apoio logístico ao transporte de córneas captadas pela Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT). O transporte será feito por veículos da secretaria ou qualquer outro da frota municipal.
A dificuldade em realizar em tempo hábil o transporte de córneas após a captação “era um dos entraves para a CIHDOTT viabilizar mais uma etapa de suas atribuições”, afirma o médico Rafael Saad, coordenador da Comissão.
“Hoje temos quase 25 mil pacientes na fila de espera, e não é admissível um transplante não ser realizado por falta de transporte, então tenho certeza de que essa parceria com a Santa Casa vai ajudar muito quem precisa”, afirma o prefeito de Araçatuba, Dilador Borges ao falar sobre a importância da parceria entre o hospital e a Prefeitura.
Busca ativa
A partir de agora, além organizar, no âmbito do hospital, os processos para captação de múltiplos órgãos e tecidos de doadores em morte encefálica, a CIHDOTT terá estrutura específica para a captação de córneas de pacientes em óbito por parada cardíaca.
A exemplo do que ocorre nos casos de morte encefálica, a enucleação, nome científico da retirada de tecidos oculares, só pode ser feita mediante autorização de familiares de até segundo grau, manifestada durante entrevista realizada por integrantes da CIHDOTT e expressa em assinatura de termo de doação.
A retirada é realizada em até 6 horas após o óbito, e as córneas devem ser transportadas para o Banco de Olhos do Hospital de Base de São José do Rio Preto também em até 6 horas após a coleta. A chegada ao Banco de Olhos tem de ocorrer no prazo máximo de 12 horas para que as córneas se mantenham aptas para transplante.
De acordo com o protocolo do Ministério da Saúde, os doadores devem ter idade acima de 2 anos e abaixo de 80 anos. Algumas patologias contraindicam a doação de córneas, como doenças malignas nos olhos, as infectocontagiosas e as linfoproliferativas crônicas, como leucemia, linfoma e mieloma.
Segundo o Sistema Nacional de Transplantes, 24.319 pacientes estão na fila de espera por um transplante de córnea no Brasil. O número, referente a maio deste ano, dobrou entre 2019 e 2022. O tempo de espera por um transplante de córnea no país é de 13,2 meses em média.
“É muito tempo para quem anseia voltar a enxergar, por isso temos que redobrar os esforços para aumentar a oferta de córneas e aproximar as pessoas do tão esperado transplante”, afirma o provedor da Santa Casa de Araçatuba, Petrônio Pereira Lima.
A receptividade da diretoria do hospital à consolidação dos processos que ampliam a busca ativa dentre os pacientes em óbito para doação de córneas e a parceria com a Prefeitura de Araçatuba “foram fundamentais para viabilizar o ato nobre que vai beneficiar pessoas que tanto precisam”, afirma Saad.
A secretária de Saúde, Carmem Guariente, destaca que “o apoio logístico para o transporte de córneas, sendo pela frota da Secretaria da Saúde, ou qualquer outro veículo da administração municipal é mais uma ação da administração municipal para fortalecer a Santa Casa de Araçatuba, referência para toda região”.
Estrutura
Implantada em 2015 na Santa Casa de Araçatuba, que é hospital de referência para os 40 municípios da região em neurologia clínica e neurocirurgia, especialidades atinentes ao diagnóstico de morte encefálica, a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante realizou até maio deste ano 299 protocolos de morte encefálica, que resultaram em 113 captações de 256 órgãos e tecidos, beneficiando diretamente 450 pessoas que estavam na fila à espera de transplante.
Consolidada nessa atribuição que registra média anual de 12 captações, a CIHDOTT está capacitada para iniciar a busca ativa de doadores a partir das notificações de óbito pela própria instituição; análise do perfil de doadores em potencial através do prontuário; abordagem e entrevista com os familiares para informá-los sobre a importância da doação de órgãos e tecidos.
“Nessas abordagens, procuramos saber dos familiares se a pessoa falecida havia informado do desejo de ajudar outras pessoas doando seus órgãos/tecidos, ou ainda se foi uma pessoa sempre disposta a ajudar os outros e ficaria feliz em após a morte contribuir para melhorar ou salvar a vida de alguém”, detalha o enfermeiro Matheus Tonon.
Um dos três enfermeiros capacitados para coletar córneas, Tonon participou de quase todas as entrevistas com familiares de pacientes em morte cerebral e das captações de múltiplos órgãos realizadas na Santa Casa de Araçatuba desde 2015.
Agora, o enfermeiro está à frente das ações destinadas a aumentar a oferta de córneas para a fila de transplantes, na qual há também pessoas de Araçatuba e região.
Além de oferecer uma estrutura capacitada para realizar abordagem acolhedora e preparada para prestar todos os esclarecimentos às famílias, o hospital realizou adaptações no necrotério para criação de um ambiente estéril e com instrumental necessário à coleta de córneas.
Fluxos
A partir do horário do óbito, a CIHDOTT tem 6 horas de prazo para avaliar o prontuário, entrevistar a família e fazer a retirada das córneas, que precisam ser mantidas em refrigeração por no máximo 6 horas até a entrega em São José do Rio Preto.
No Hospital de Base, referência para todos os municípios da região Noroeste Paulista no recebimento, análise, preparação e distribuição de córneas ao SET, os tecidos são colocados em preparo especial por até 14 dias, tempo necessário à conclusão dos exames que os validarão ou não para transplante.
O hospital de Rio Preto também é referência para transplantes em pacientes do SUS da região Noroeste. Porém, as córneas são distribuídas conforme a fila única regionalizada, no caso, pelo Sistema Estadual de Transplantes, que acompanha e verifica a qualidade dos tecidos desde a captação até o transplante. Cada doação beneficia dois pacientes.
O processo é sigiloso, visando manter a segurança e a confidencialidade de doadores e receptores.
Recuperação
A córnea é um tecido transparente que fica na parte da frente do olho. Pode-se compará-la ao vidro de um relógio ou a uma lente de contato. Se a córnea se opacifica (embaça), a pessoa pode ter a visão bastante reduzida e até perdê-la.
De acordo com o Ministério da Saúde, o transplante permite que pessoas com alguma deficiência visual por problemas de córnea recuperem a visão.