A Polícia Federal deflagrou na manhã desta terça-feira, 6/6, a Operação Occulta Pecunia II, para aprofundar as investigações sobre atos de lavagem de dinheiro, tendo como crime antecedente o roubo de 5 milhões de dólares no interior do Aeroporto Internacional de Viracopos no dia 4 de março de 2018.
A investigação, iniciada a partir de informações colhidas na primeira fase da operação (Occulta Pecunia, em 5.9.2020), resultou na expedição de três mandados de busca e apreensão pela 1ª Vara Federal de Campinas, com o objetivo de obter novos elementos probatórios da destinação do dinheiro roubado. Os mandados estão sendo cumpridos em endereços residenciais nas cidades de Campinas/SP e Indaiatuba/SP.
Na primeira fase da operação, descortinou-se uma associação de pessoas, de maneira estruturada e ordenada, que dissimularam a origem do patrimônio, com a utilização de diversos subterfúgios para a execução do crime, como compra e venda de imóveis, aquisição de veículos e a criação de uma empresa de transportes em Paulínia/SP, para circulação de recursos.
Nesta nova fase, a Polícia Federal busca provas sobre a ocultação do dinheiro do roubo por meio da aquisição de um imóvel residencial em Campinas e por meio de repasse de quantias vultosas a dois sócios ocultos da referida empresa, que, em período subsequente ao roubo (entre julho/2019 e novembro/2021), movimentou aproximadamente R$ 10 milhões. O imóvel foi adquirido pelo principal investigado e transmitido para o nome de familiares.
Até o momento, foram identificadas e estão sendo investigadas nove pessoas físicas e uma jurídica, além das transações de aquisição de oito imóveis residenciais, vários terrenos em Furnas/MG e veículos automotores.
Os envolvidos responderão, na medida de suas participações, pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa, cujas penas somadas podem chegar a mais de 14 de anos de prisão.
Cronologia dos fatos e das investigações
1. Do roubo (em 4.3.2018)
No dia do roubo, indivíduos armados, após destruição de um alambrado, de correntes e cadeados utilizados no fechamento de portões de acesso à área do terminal de cargas, abordaram e mantiveram em cárcere privado funcionários de empresas que atuam no aeroporto, até conseguirem transferir 13 sacolas contendo numerário em espécie no valor de US$ 5.058.390,41 (cinco milhões, cinquenta e oito mil, trezentos e noventa dólares e quarenta e um centavos). O dólar estava cotado a R$ 3,25 em 5.3.2018, levando a conversão a R$ 16.439.768,83 naquela data). Os valores estavam acondicionados em um container recém descarregado de um avião para um veículo clonado de uma empresa que trabalha no aeroporto. Na posse do dinheiro, deixaram o local e não foram encontrados.
2. Apreensão de US$ 20.000,00 dólares em São Paulo (em março de 2018)
Dezoito dias após o roubo, a Polícia Civil apreendeu US$ 20.000,00 (vinte mil dólares), com uma mulher em São Paulo. O dinheiro foi periciado e constatado, por meio do número de série, que fazia parte dos 13 malotes que estavam no contêiner no terminal de cargas, que seria enviado para Zurique, na Suíça.
3. Da Operação Tango Victor (em 5.9.2020)
A partir dessa apreensão desses US$ 20 mil, a Polícia Federal iniciou uma nova investigação, resultando na Operação Tango Victor, em 5.9.2020, para dar cumprimento a três mandados de prisão temporária (com prazo de até 5 dias) e um de busca e apreensão em desfavor de três integrantes da associação criminosa que efetuou o roubo. Um homem e uma mulher foram presos.
O homem, o principal investigado e apontado como mentor do roubo, foi preso na BR-364 (Porto Velho), pela Polícia Rodoviária Federal, enquanto a mulher foi presa pela Polícia Federal na capital paulista. O terceiro investigado, companheiro da mulher, e suspeito de ter participado da execução do roubo, não foi localizado; posteriormente, porém, apresentou-se à Justiça Federal.
4. Homicídio dos investigados (em 1º.5.2021 e 20.10.2022)
Solto e respondendo à investigação em liberdade, o principal investigado pelo roubo foi assassinado em via pública, em 1.5.2021, em Campinas, por dois homens usando capacetes fechados. A investigação do homicídio foi conduzida pela Polícia Civil. Após o relatório, o Ministério Público de São Paulo promoveu, em 27.3.2023, o arquivamento do inquérito policial que investigou a morte em razão da ausência de elementos que elucidassem a autoria. A Vara do Júri da Comarca de Campinas acolheu o pedido em 29.5.2023.
O segundo investigado, também procurado na Operação Tango Victor, que não havia sido preso, mas se apresentou à Justiça, foi assassinado em 20.10.2022, quatro meses após ser ouvido na Polícia Federal.
5. Da Operação Occulta Pecunia I (em 29.11.2022)
No mesmo mês de outubro de 2022, mesmo com a morte dos dois principais investigados, a Polícia Federal já havia aberto uma nova linha de trabalho: apurar atos de ocultação do dinheiro roubado.
Com a instauração do inquérito policial e o avanço das investigações, descobriu-se a associação de várias pessoas, de maneira estruturada e ordenada, que dissimularam a origem do patrimônio, com a utilização de diversos subterfúgios para a execução do crime, como compra e venda de imóveis, aquisição de veículos e criação de empresa para circulação de recursos.
A investigação, que resultou na Operação Occulta Pecunia, em 29.11.2022, deu cumprimento a cinco mandados de busca e apreensão, expedidos pela Primeira Vara Federal de Campinas, com o objetivo de obter novos elementos probatórios e contou com a atuação conjunta do Ministério Público Federal e BAEP Campinas. Houve buscas nos estados de São Paulo, Alagoas e Pará.
Os elementos colhidos continuam em análise, mas permitiram identificar mais três pessoas que hoje são investigadas na Operação Occulta Pecunia II.