O Dia dos Namorados é sempre uma data especial para celebrar o amor e a união dos casais. No entanto, muitas pessoas ainda enfrentam barreiras para se relacionarem, sejam elas ligadas à deficiência física, intelectual ou psicossocial. Por isso, essa data é também uma oportunidade de mostrar que o amor não tem limites e que é possível superar os obstáculos e preconceitos que ainda estão impregnados na sociedade.
Uma das maiores queixas dos portadores de deficiência, por exemplo, que representam 24% dos brasileiros, é sobre a dificuldade de construir um relacionamento amoroso. Alguns até dizem “não consigo namorar”. Mas isso, aos poucos, vai mudando, graças às novas tecnologias, às mídias sociais e aos aplicativos de namoro, que facilitam a aproximação e o envolvimento dos casais.
“Pessoas com deficiência (PcDs) têm o direito, sim, de se relacionar afetiva e sexualmente, assim como qualquer outra pessoa. No entanto, ainda enfrentam muitos desafios para viver as emoções de um encontro amoroso, por conta da baixa autoestima e da discriminação que sofrem”, diz o Defensor Público Federal André Naves, que é especialista em inclusão social.
É importante lembrarmos – e enfatizarmos – que pessoas com deficiência também estudam, trabalham, se alegram ao conquistar algum objetivo, lutam para conquistar seu espaço na sociedade e, como todo mundo, gostam também de namorar! Para isso, André Naves lembra que é fundamental que os PcDs tenham acesso a espaços de socialização e inclusão, onde possam conhecer outras pessoas, fazer amigos, se divertir e se apaixonar. E um desses espaços é o Grupo Chaverim, associação beneficente que há 25 anos promove atividades socioculturais, esportivas e de lazer para pessoas com deficiência intelectual e psicossocial, em São Paulo.
“O Grupo Chaverim conta com uma equipe de profissionais e voluntários que acompanha e incentiva os participantes em diversas atividades, como ir ao cinema, teatro, exposições, shows, parques, e muito mais. Além disso, a entidade oferece oficinas de arte, música, dança, culinária, informática e outras. Muitos casais se formam lá justamente por haver essa socialização”, explica o Defensor Público, que é também um dos conselheiros do Chaverim.
Um namoro que teve início no Chaverim, por exemplo, é o de Anna Carolina Gomes. Ela conta que, depois de muitas tentativas frustradas, foi durante os eventos do grupo que encontrou o seu grande amor.
“Tudo mudou com a chegada do Gustavo. Eu já tinha desistido de tentar arrumar alguém devido a outras tentativas ruins do passado. Eu também estava em um período que já não tinha muito contato com quase nenhum de meus antigos amigos. Mas, sem eu perceber, Deus colocou esse meu namorado lindo na minha vida no dia 27 de agosto de 2022. Ele me ensinou muito a ser independente e a ter também humildade, honestidade, caráter e empatia por todos, mesmo que não gostemos das pessoas que estão à nossa volta. Fico feliz por ter alguém tão maravilhoso do meu lado e que também faz eu me sentir única e especial”, diz ela.
Outro bom exemplo é o de Joice Heliszkowski. Ela conheceu o seu parceiro, Décio, no Chaverim. Ficaram amigos e três meses depois começaram a namorar. “A gente sempre viveu bem um do lado do outro. Tivemos muitos momentos felizes. Conseguimos nos casar e ficamos juntos por nove anos. Foi uma união maravilhosa. Mesmo com o fim do casamento, nossa amizade se fortaleceu. A gente se encontra nos finais de semana, nos respeitamos muito e eu devo muito a ele por tudo que vivemos juntos”, ressalta.
Para André Naves, o mais importante é que neste Dia dos Namorados os casais celebrem o amor em todas as suas formas e cores, sejam eles héteros, homoafetivos, brancos, pretos, pardos, com ou sem deficiência. “Vamos valorizar a diversidade humana e reconhecer que os PcDs têm também o direito de amar e de serem amados. Vamos apoiar iniciativas que se multiplicam pelo país, como o Grupo Chaverim, que contribuem para levar alegria, elevar a autoestima, a inclusão social e, até mesmo, ajuda na construção de relacionamentos afetivos de pessoas com deficiência. Vamos espalhar o amor”, reitera.
O Defensor Público lembra que a Lei Brasileira de Inclusão, em seu artigo 6º, assegura que a deficiência, de qualquer tipo, não prejudica a capacidade civil da pessoa para se casar ou constituir união estável; bem como o direito de exercer direitos sexuais e reprodutivos; ter acesso a informações sobre reprodução e planejamento familiar; conservar a fertilidade – sendo vedada a esterilização compulsória -; e exercer direito à família e à convivência familiar e comunitária.