Quem já leu o Tratado Sobre a Tolerância, de Voltaire, sabe o que significa intolerância religiosa. A intolerância e o preconceito estão arraigados na sociedade. Vinicius Júnior, o “Vini Jr.”, jogador brasileiro de futebol, que atua no clube Real Madrid, está sendo alvo de reiterados atos de discriminação no Campeonato Espanhol, por ser negro.
Chama à atenção a manifestação da torcida de times adversários ao Real Madrid, atribuindo em coro ao jogador a denominação de “macaco”, inclusive, atirando-lhe bananas. Entidades ligadas ao esporte estão se manifestando em repúdio contra as agressões racistas ao jogador.
A diplomacia brasileira, também. Mas, repudiar, somente, não basta. Cabe às autoridades da Espanha tomar providências firmes na esfera criminal e no âmbito do futebol sobre as atitudes racistas desses torcedores imbecis, que estão a afear o futebol, com ofensas a um profissional de excelência, humilde, que só faz aformosentar esse esporte. É repugnante presenciar tal cenário em pleno século 21, mesmo depois do nazismo e do fascismo.
Talvez esse ranço racista seja reflexo do fato de a Espanha, no século XV, ter participado da colonização do continente africano, em especial nas ilhas Canárias, as quais estavam ligadas ao comércio de escravos. O problema, assim, não é de rivalidade entre clubes; o “buraco é mais embaixo”. O indivíduo racista comumente esconde essa condição, a qual se exterioriza quando do seu descontrole emocional (como numa torcida de futebol), levando-o a “mostrar a cara”, a sua cólera e a voz do preconceito. Na Europa há resistência a entender a discussão racial.
A filósofa, Djamila Ribeiro, no lançamento do seu livro na Alemanha, afirmou que existe uma visão eurocêntrica dos europeus em não compreender as realidades sociais. Infelizmente, existem milhares de vítimas como Vini Júnior que sofrem ataques racistas. Trata-se de uma cultura de discriminação que deve ser combatida com rigor, com a aplicação de sanções exemplares, pois está em jogo o perpetuar do desrespeito e da ofensa à dignidade do ser humano. A conclusão que se chega sobre tais ataques racistas, é a de que a estupidez humana é infinita, mas a sabedoria não!
*Adelmo Pinho é promotor de justiça em Araçatuba e articulista do RP10