Immanuel Kant foi um dos maiores pensadores da filosofia ocidental moderna. Ele criou a Teoria do Imperativo Categórico, a qual defende que o homem deve agir com a razão e norteado pela ética. Para ele, toda ação humana individual deve ser feita visando o coletivo, com aplicabilidade prática em política, na justiça ou em qualquer outra esfera da atividade humana. A vontade, para Kant, é que leva ao agir racional; por outro lado, o desejo conduz ao agir instintivo. Sabemos que, o que diferencia o homem do animal é a capacidade de pensar.
Agir com a razão, assim, é exclusividade do ser humano. Agir instintivamente, por sua vez, é o fazer sem pensar, como um animal. A racionalidade – o agir com a razão, contém o homem, senão o desejo o governa, escravizando-o. Kant,
teorizou que: liberdade é o fazer o que não se quer. Parece uma contradição, mas não é. Quando se pensa em liberdade, pelo senso comum e açodado, seria a possibilidade de fazer aquilo que “der na cabeça”, sem “amarras sociais”.
Mas, se a ação é dominada pelo desejo, tornamo-nos escravos dele. Quando se compra por impulso um belo e luxuoso automóvel, sem possuir disponibilidade financeira, age-se sem o uso da razão e motivado pelo desejo. Quando se trai o cônjuge, atraído pela beleza de uma terceira pessoa, age-se por instinto e movido por luxúria (A música do “Seu Jorge”, Amiga da minha mulher, é um exemplo do uso da razão para conter um desejo de natureza sexual). Quando se mata alguém por um motivo banal – o que bicho não faz, age-se por instinto e sem racionalidade.
Ter liberdade, assim, é não se submeter ao desejo e agir com a razão. Se uma criança faz birra e os pais a repreendem firmemente, com bons argumentos, age-se de modo racional e correto. Agir por impulso ou de modo irracional, seria bater na criança ou a ofender verbalmente. O agir racional do homem repele o desejo e controla as pulsões (denominação freudiana).
Ter liberdade, assim, consiste em fazer o que não se quer ou deixar de fazer o que se quer, que é o contrário de fazer o que bem entenda ou deseje. Agindo assim, o homem, ainda de forma relativa, controla o “piloto automático” dos desejos para usar com liberdade a razão. A liberdade, enfim, nesse contexto, só pode ser exercida com autonomia e inteligência.
*Adelmo Pinho é promotor de justiça em Araçatuba e articulista do RP10