Em um marco histórico, o Brasil presenciou uma queda significativa na desigualdade de renda em 2022, alcançando o menor índice desde o início da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua em 2012. Esse progresso foi impulsionado pelo aumento do valor do Auxílio Brasil em um ano eleitoral e pela melhoria do mercado de trabalho.
Conforme revelado nesta quinta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de Gini, que mede a desigualdade de renda, reduziu de 0,544 em 2021 para 0,518 em 2022. Este índice varia de 0 a 1, sendo que valores mais próximos de 1 indicam maior desigualdade.
“Observamos uma redução significativa da desigualdade entre 2021 e 2022. No entanto, em comparação com outros países, ainda é um valor alto”, ressalta Alessandra Brito, analista do IBGE responsável pela pesquisa.
Mercado de trabalho e Auxílio Brasil
A diminuição da desigualdade foi possível graças ao aumento do rendimento médio mensal real domiciliar per capita em quase todas as classes de rendimento. A única exceção foi o grupo mais rico, o 1% da população, que teve uma diminuição de 0,3%.
Notavelmente, o crescimento do rendimento foi mais intenso entre os grupos mais pobres da população. Entre os 5% mais pobres, a renda média mensal per capita aumentou 102,3%, de R$ 43 em 2021 para R$ 87 em 2022.
A redução da desigualdade é atribuída a uma combinação de fatores: a melhoria do mercado de trabalho e o aumento do valor dos programas sociais. “Não podemos isolar apenas o programa social ou apenas o mercado de trabalho. Ambos os fatores contribuíram significativamente”, afirma Alessandra Brito.
Para entender melhor essa dinâmica, é importante lembrar que o aumento do valor dos programas sociais, como o Auxílio Brasil, é uma decisão governamental, enquanto a recuperação do mercado de trabalho é um processo mais orgânico, ligado à economia como um todo.
“2022 foi um ano eleitoral. Portanto, para o mercado de trabalho se recuperar, é necessária uma evolução econômica mais orgânica. Agora, aumentar o valor do programa social pode ser feito por projeto de lei ou por medida provisória. São políticas diferentes, com tempos de maturação diferentes. Ambas têm um papel importante e devemos observar em 2023 como será a durabilidade delas”, destaca Brito.
Aumento do Auxílio Brasil e a redução da desigualdade
O Auxílio Brasil, que substituiu o Bolsa Família em 2021, teve seu valor aumentado no ano eleitoral de 2022, primeiro para R$ 400 e depois para R$ 600, no segundo semestre. Este aumento se mostrou significativo na luta contra a desigualdade, considerando que os valores médios do Bolsa Família, em vigor até 2021, eram bem mais baixos.
A combinação do aumento do Auxílio Brasil e a melhoria do mercado de trabalho, que resultou no crescimento da população ocupada em 8,8% e da massa de rendimentos do trabalho em 6,6%, culminou na redução da desigualdade de renda. Em média, o rendimento médio mensal real domiciliar per capita no Brasil chegou a R$1.586 em 2022, um aumento de 6,9% em relação a 2021.