Conversas entre o ex-Ajudante de Ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid, e assessores da então primeira dama, Michelle Bolsonaro, descobertas pela Polícia Federal (PF), revelam um esquema de pagamento de despesas dela em dinheiro vivo, com o objetivo de dificultar os registros das movimentações financeiras. As informações foram reveladas pelo portal UOL.
A PF quebrou o sigilo das conversas de Mauro Cid após a prisão dele, em 3 de maio, por suspeitas de fraude em comprovantes de vacinação de Bolsonaro e outras pessoas. O ex-Ajudante de Ordens teve o sigilo bancário quebrado e foram encontrados indícios de que havia um esquema de desvios de recursos públicos para bancar despesas da ex-primeira-dama.
Ainda segundo a PF, havia uma “dinâmica sobre os depósitos em dinheiro para as contas de terceiros e a orientação de não deixar registros e impossibilidades de transferências”. As conversas encontradas era entre Mauro Cid e duas assessoras da primeira-dama: Cintia Borba Nogueira e Giselle dos Santos Carneiro da Silva. Michelle Bolsonaro usava um cartão de crédito vinculado à conta de Rosimary Cardoso Cordeiro, que trabalhava como assessora parlamentar no Senado e era amiga dela.
Em um dos áudios revelados, do dia 30 de outubro de 2020, Cintia manifesta a Giselle preocupação de que a imprensa descubra o esquema.
“Essa situação do cartão, realmente, é um pouco preocupante. O que eu sugiro para você é o seguinte. No momento que você for despachar com ela, é esse assunto. Você pode falar com ela assim sutilmente, né? (…) Mas eu acho que você poderia falar assim: dona Michelle, que é que a senhora acha da gente fazer um cartão para a senhora? Um cartão independente da Caixa. Pra evitar que a gente fique na dependência da Rosy. E aí a gente pode controlar melhor aqui as contas. (…) Pode alertá-las o seguinte, que isso pode dar problema futuramente, se algum dia, Deus o livre, a imprensa descobre que ela é dependente da Rose, pode gerar algum problema.”
Cid chega a comentar que a situação precisava ser resolvida, porque era “a mesma coisa do Flávio”, fazendo menção ao esquema conhecido como rachadinhas, pelo qual o senador é investigado.
“Se ela perguntar pra você ou falar alguma coisa ou comentar, é importante ressaltar com ela que é o comprovante que ela tem. É um comprovante de depósito, é comprovante de pagamento. Não é um comprovante dela pagando nem do presidente pagando. Entendeu? É um comprovante que alguém tá pagando. Tanto que a gente saca o dinheiro e dá pra ela pagar ou sei lá quem paga ali. Então não tem como comprovar que esse dinheiro efetivamente sai da conta do presidente. O Ministério Público, quando pegar isso aí, vai fazer a mesma coisa que fez com o Flávio, vai dizer que tem uma assessora de um senador aliado do presidente, que está dando rachadinha, tá dando a parte do dinheiro para Michelle”, detalha Mauro Cid.