Uma reunião na Arábia Saudita que presenteou o então presidente Jair Bolsonaro com joias no valor de R$ 16,5 milhões discutiu a venda de ativos da Petrobras e um possível convite para o Brasil integrar uma versão estendida da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). A informação é de um telegrama enviado pela embaixada brasileira em Riade para o Itamaraty, obtido pelo portal g1 através da Lei de Acesso à Informação.
O documento revela que o encontro aconteceu cerca de três semanas após uma reunião entre o então ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, e o príncipe Abdulaziz bin Salman bin Abdulaziz Al Saud, equivalente árabe ao mesmo cargo, e que Bolsonaro não estava presente. Durante a reunião, os tópicos apresentados por ambos os lados foram discutidos, incluindo a venda de ativos da Petrobras e um possível convite para o Brasil integrar a Opep+.
O tema da possível adesão do Brasil à Opep+ foi abordado em relação à compatibilização entre o setor de petróleo dos países da Opep+ e o do Brasil, onde as companhias petroleiras são de capital aberto. Segundo o telegrama, o chefe da Assessoria Especial de Relações Internacionais do Ministério das Minas e Energia (MME), Christian Vargas, afirmou que a Petrobras passa por processo de desverticalização e alienação de seus ativos “downstream”, como parte de reformas do setor de energia que apontam para a crescente liberalização do mercado, no qual os entes estatais encontram limitações legais para intervir.
A Opep+ é uma organização que reúne os 13 países originalmente integrantes da Opep e outras 10 nações produtoras de petróleo, totalizando 23 países que são responsáveis por cerca de 40% de todo o petróleo bruto do mundo.
O telegrama enviado pela embaixada ao Ministério das Relações Exteriores não faz qualquer menção à entrega de presentes à comitiva brasileira. Os blogs dos comentaristas Valdo Cruz e Octávio Guedes no g1 já registraram que a Polícia Federal e o Senado investigam se as joias foram algum tipo de contrapartida por acordos assinados.
Entenda o caso
Uma reportagem de 3 de março do Jornal Estado de S. Paulo revelou que uma comitiva do governo, a mando do presidente Jair Bolsonaro, tentou trazer para o Brasil, de forma ilegal, joias feitas em diamante. O valor total das peças é estimado em 3 milhões de euros, o equivalente a R$ 16,5 milhões de reais.
As joias foram encontradas na mochila de um militar que compunha a assessoria do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que retornava de uma viagem ao Oriente Médio em outubro de 2021.
As joias foram retidas pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Após ser informado sobre a retenção, Bento Albuquerque tentou recuperar os diamantes, argumentando que eram presentes do governo da Arábia Saudita para a primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Entretanto, o agente da Receita manteve a apreensão dos acessórios, pois a legislação da Receita Federal determina que todo bem que ultrapasse mil dólares deve ser declarado ao órgão para que possa entrar no Brasil.
Desde então, foram feitas quatro tentativas frustradas do ex-presidente Bolsonaro para reaver as joias de diamante. Ele tentou usar dos ministérios da Economia, Minas e Energia, Itamaraty e também militares. A última tentativa teria sido no dia 29 de dezembro, quando faltavam três dias para acabar o mandato de Jair Bolsonaro.
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