“Oração ao tempo”, é uma bela canção de Caetano Veloso. É um misto de poesia com filosofia. Trechos como, “és um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho” ou “compositor de destinos, tambor de todos os ritmos”, chamam à reflexão e acalentam a alma. A morte é uma consequência biológica e de fato o tempo é o senhor do destino. A imortalidade seria a solução? O ser humano seria feliz, se fosse imortal? Cazuza, já nos alertava, poeticamente: o tempo não para … O certo é que olhamos para trás e a sensação é de que a nossa infância foi ontem …
Envelhecemos – para quem chega lá, pessoas queridas nos deixam … Bate o saudosismo … O tempo, assim, é implacável, mas tudo a seu tempo e todos têm o seu tempo, de chegada e de partida. Milton Nascimento compôs que “chegar e partir só são dois lados da mesma viagem”, usando a metáfora do “trem que chega é o mesmo da partida”. A única certeza é que, tudo que é vivo morre. Se a morte é inexorável, então, ser sábio é viver bem, mesmo diante da efemeridade. A juventude é repleta de prazeres, banalidades, desejos e culto à beleza física.
A senectude, por outro lado, traz experiência, sabiedade, responsabilidade, temperança … Existem pessoas que já nascem velhas e outras, idosas, que nunca envelhecem. A diferença entre elas é a maneira de pensar ao encarar a realidade da vida e a finitude humana. O idoso – que é diferente de velho – é o jovem que deu certo e chegou lá.
Cícero, dizia: “Admiro um jovem que guarda algo de ancião dentro de si, bem como um velho que mantenha algo de um jovem”. A longevidade luta contra o tempo e o segrego dela é aquilo que nos move. Freud afirmou que o nosso móvel está no desejo – pulsão. Se tenho projetos ou ideais a atingir, tenho motivação e pretendo viver bem e bastante até o último suspiro.
É de Schopenhauer a metáfora: “A vontade é um cego robusto que carrega um aleijado que enxerga”. Nós somos o aleijado, guiados pela vontade; é isso que nos faz sair da cama, enfrentar as dificuldades diárias e ser feliz, quando possível. Shakespeare, no ensaio “Menestrel”, poetificou: “Com o tempo se aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão”. O recado é simples: viva o presente. Esse mesmo gênio da literatura, expôs na mesma obra: “Aprende que o tempo não é algo que possa voltar. Portanto, plante seu jardim e decore
sua alma, em vez de esperar que alguém lhe traga flores … Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar”. Tempo curto ou longo, aproveite-o e viva feliz! Faça o bem! Enfrente seus medos! Prestigie sua família! Faça amigos! Beije e abrace! Ouça música e ria! Tempo tempo tempo tempo …
*Adelmo Pinho é promotor de justiça em Araçatuba e articulista do RP10