O número de novos pacientes com câncer que chegam à Santa Casa de Araçatuba para tratamento teve um acréscimo superior a 100% nos últimos meses. O hospital tinha, em média, até 2021, entre 30 e 40 novos casos mensais, mas durante o ano de 2022, passou a atender entre 70 e 80 novos pacientes oncológicos por mês.
A pandemia de Covid-19 não tem relação com o aumento de casos, segundo o médico oncologista clínico Fábio Veloso Alexandrino, coordenador clínico do Serviço de Oncologia da Santa Casa de Araçatuba. No entanto, o período de disseminação do novo coronavírus contribuiu para aumentar a gravidade dos casos de câncer, já que os pacientes não procuraram atendimento para o diagnóstico da doença.
“A pandemia não aumentou o número de câncer, ela fez com que os casos ficassem mais avançados, porque o paciente acabou não procurando atendimento e não conseguia fazer o diagnóstico. Os tumores ficaram mais avançados, diminuindo a taxa de cura”, explicou o médico, destacando que muitos chegam ao estágio 3 da doença.
Dentre os pacientes em tratamento, as três maiores incidências são de câncer de mama, cabeça e pescoço e de próstata. Já os casos infantojuvenis – de janeiro a novembro de 2022, 78 crianças foram acometidas pelas diferentes formas de câncer -, a maior incidência é de leucemia entre os pacientes atendidos no CTO (Centro de Tratamento Oncológico) da Santa Casa.
Em todos esses casos, aproximadamente 90% dos pacientes precisam passar por quimioterapia, um tratamento que, dependendo do quadro clínico do paciente, pode ter indicação médica de até 12 ciclos que podem durar várias semanas.
O que justifica o aumento no número de casos, segundo o coordenador clínico do Serviço de Oncologia da Santa Casa de Araçatuba, é o maior número de diagnóstico pela rede de saúde pública. “O paciente está tendo mais acesso às redes básicas para fazer o diagnóstico e tem acesso mais rápido ao serviço de referência”, explicou.
O médico afirma que está havendo uma relação de trabalho muito mais rápida entre o serviço primário (Unidades Básicas de Saúde), que encaminha o paciente para o serviço secundário, no caso os ambulatório de especialidades, como o AME (Ambulatório Médico de Especialidades), que por sua vez encaminha o doente para o serviço terciário, que é a Santa Casa, onde é feito o tratamento do câncer.
“O paciente, que antes demorava para chegar ao serviço terciário, chega muito mais rápido, com isso tem uma rapidez no tratamento. E isso faz com que tenha um aumento nesses casos”, resumiu o médico.
Teto financeiro tem déficit de mais de R$ 300 mil por mês
O teto financeiro atual do CTO da Santa Casa é de R$ 260 mil, para o atendimento de 400 pacientes mensais. No entanto, a unidade registrou uma média mensal de 800 pacientes, ou seja, o dobro de sua capacidade, com gastos que chegam aos R$ 600 mil/mês.
Essa diferença, segundo o coordenador da oncologia do hospital, vem sendo absorvida pela Santa Casa. “O hospital desenvolve um trabalho humanitário, a gente acaba assumindo toda essa diferença, para que o paciente seja atendido da melhor forma possível. E a gente conta com o apoio e conta que chegue isso para o governo, para que ele note isso e veja o que a Santa Casa tem feito esses anos todos para manter a qualidade do atendimento”, afirmou.
Na semana passada, a diretoria do hospital apresentou o déficit ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que esteve em Araçatuba na última quinta-feira (12). O chefe de Estado prometeu agilizar a tramitação do processo para liberação de R$ 8 milhões para custeio de medicamentos e insumos ao Serviço de Oncologia da Santa Casa de Araçatuba.
O plano de trabalho foi apresentado pela diretoria da instituição à Secretaria Estadual de Saúde em meados de novembro do ano passado e está em análise na Coordenadoria de Gestão Orçamentária e Financeira.
“Não deixamos faltar nada para o paciente, o paciente tem recebido o tratamento da melhor forma possível e do jeito que tem que ser, a gente não tem deixado faltar nada, a Santa Casa tem assumido essa diferença e dado tratamento de primeira linha para todos os pacientes, sem exceção. Esperamos o apoio do governo do Estado, para que a gente possa sanar essa diferença”, disse o coordenador da Oncologia.
Hospital é referência para 40 municípios e está preparado para atender todos os tipos de câncer
A Santa Casa é referência no tratamento do câncer para 40 municípios da região e está preparada para atender todos os tipos da doença, com radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia, imunoterapia e cirurgia. A exceção é o câncer de olho, que quando diagnosticado em um paciente, o encaminha para uma unidade especializada.
A estrutura do hospital inclui, ainda, uma equipe específica de cirurgiões oncológicos e oncologistas clínicos. No diagnóstico, inclui a patologia e os exames de imagem, principalmente durante o tratamento e acompanhamento do paciente.
Meta é transformar Unidade de Oncologia em Hospital do Câncer
O atendimento oncológico na Santa Casa começou no início dos anos 1990 e foi a segunda especialidade de alta complexidade que foi instalada no hospital – a primeira foi obstetrícia de alto risco.
O hospital possui, hoje, um plano de trabalho para ser transformada em uma Cacon (Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia), o que na prática, equivale a um Hospital do Câncer, como há hoje o Hospital do Rim, que começou como uma unidade de atendimento em Nefrologia.