A fé, ou para quem não a tenha, ao menos a ética, recomenda que respeitemos ou até amemos o próximo. Essas atitudes, porém, não são de fácil realização. A lenda de Narciso permanece viva e influencia nossos pensamentos e ações. A cortina do ego comumente nos impede de enxergar o outro. Nessa caminhada terrena, os vícios costumam se sobrepor às virtudes, porque o sapiens se coloca no centro do universo, “cultuando o próprio umbigo”. O ser humano hodierno abandona a sua essência, para viver de rótulos e papéis impostos pela sociedade.
O apego ao material é estimulado pelo consumismo desenfreado, enquanto as doenças mentais aumentam progressivamente, porque o desejo nunca é satisfeito – e nem será. A roupa de grife torna-se mais importante do que pessoas. O querer mais, assim, é infinito e incontrolável. Sábio foi Sócrates (filosófo grego – 470 – 399 a.C), que costumava caminhar pelas feiras de Atenas, somente para observar a tudo que não precisava.
Amar o semelhante, nesse contexto, torna-se complexo e importa em renunciar ao “amor próprio”, exigindo-se ação – comportamento ativo benéfico, ou inação – deixar de fazer algo, para que o bem aconteça. Na vida, amar o próximo, não se resume em sermos meros espectadores ou em se ter benquerença pelo semelhante.
Exige-se algo mais … Será, portanto, que verdadeiramente amamos nosso próximo ou somos hipócritas, exteriorizando uma falsa imagem daquilo que realmente pensamos e sentimos? Reflexionemos: você trata bem o seu subordinado? Você deixa de ser prazenteiro com o seu superior? Você aconselha o desorientado? Você renuncia à vingança? Você perdoa o seu ofensor? Você deixa de lucrar sobre o endividado? Você evita comentar fato depreciativo da vida alheia? Você acalma o rábido? Você repele a discórdia? Você presta ajuda ao acidentado? Você dá alimento ao faminto? Você é humilde com os humildes? Você defende a verdade? Você é justo, inclusive com o magano? Você serve sem interesse? Você é empático? Você cultiva a paz? Você exerce a gratidão? Você condena o preconceito? Você deixa de ser individualista, para satisfazer necessidades coletivas? Enfim, fica a reflexão: você realmente ama o próximo?
*Adelmo Pinho é promotor de justiça em Araçatuba e articulista do RP10