Um recorde de 13 bombardeiros chineses H-6, que são capazes de carregar armamento nuclear, entraram no espaço aéreo de Taiwan no dia 13 de dezembro deste ano. As aeronaves foram acompanhadas de um caça J-11. Ao todo, foram 29 aviões de guerra chineses, afirma o jornal South China Morning Post.
O episódio é mais um capítulo na tensão entre China, Taiwan — e os Estados Unidos. As autoridades da China afirmam que Taiwan é parte do território chinês, enquanto os taiwaneses dizem ser uma nação independente. Os Estados Unidos, por sua vez, mantêm laços formais apenas com Pequim, embora tenha aumentado os contatos com as autoridades de Taipei e vendido armas para os taiwaneses.
A presidenta da Câmara dos Estado Unidos, Nancy Pelosi, visitou Taiwan em agosto desse ano e o orçamento militar dos EUA para 2023 prevê um programa de modernização da defesa para Taiwan.
Estes episódios recentes não são um raio em céu azul, alerta Giorgio Romano, professor de Relações Internacional e Economia da UFABC e membro do Observatório da Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil (OPEB). O pesquisador ressalta que eles são parte de uma escalada na tensão entre China e Estados Unidos que acontece desde 2016, com o então presidente Donald Trump na Casa Branca.
Para ele, todavia, a tensão no estreito de Taiwan não deve resultar em uma invasão da ilha. Os chineses devem atingir seu objetivo de reunificação com Taiwan por meio da consolidação de seu crescente poder e uma invasão militar teria um custo muito alto. Enquanto isso, crê o pesquisador, os estadunidenses tentam usar Taiwan para frear o crescimento chinês, assim como aplicam sanções contra o essencial setor de semicondutores da China.
Semicondutores são os chips que podem ser usados para o celular do seu bolso e também para guiar drones letais.
Como mais uma camada da importância de Taiwan, a ilha é sede da mais importante e avançada fábrica de semicondutores do mundo, a TSMC. A companhia faz os processadores da Apple e é vital para a economia global. Embora as economias de China e Estados Unidos tenham um alto grau de interação, Romano diz que existe um consenso na opinião pública e entre os políticos estadunidenses de que é preciso “conter a ascensão chinesa”.
“Não vai ter invasão de Taiwan. Por quê? Porque a China tem tempo, ao contrário da Rússia, que está em franca decadência, economicamente, tecnologicamente, vivem de recursos que está com prazo de validade – petróleo e gás -, a China, não. A China vai continuar crescendo nos próximos 20 anos”, diz o professor da UFABC.
Romano destaca outro fator: a disparada dos investimentos em defesa do Japão, país que serve como uma espécie de “linha de defesa” para Taiwan. Os japoneses decidiram dobrar seu investimento em defesa nos próximos 5 anos. Apenas no próximo ano fiscal, os gastos com defesa do Japão estão previstos em US$ 7,34 bilhões.
“O mundo não é só EUA e China, tem o Japão, que é a terceira maior economia do mundo. Se a terceira economia do mundo, como anunciado semana passada, vai dobrar seu esforço militar, é uma quebra total da Constituição pacífica do país. O Japão não tem bomba atômica, mas tem todas as condições de montar uma bomba atômica em poucos meses se precisar. Pode ter certeza que eles têm tudo pronto. Isso são fatores que a China sabe, e a China não vai arriscar”.