O vice-presidente em fim de mandato e senador eleito Hamilton Mourão (Republicanos) criticou os protestos golpistas que acontecem no país desde a noite do segundo turno das eleições presidenciais, há duas semanas. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, Mourão disse ainda que não pretende passar a faixa presidencial a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que venceu Jair Bolsonaro (PL) na disputa.
“Passagem de faixa é do presidente que sai para o presidente que entra. Se o presidente, vamos dizer assim, ele não vai querer passar a faixa, não adianta dizer que eu vou passar. Eu não sou o presidente. Eu não posso botar aquela faixa, tirar e entregar. Então, se é para dobrar, bonitinho, e entregar para o Lula, pô, qualquer um pode ir ali e entregar”, afirmou.
Para Mourão, Bolsonaro deveria participar da cerimônia de posse do novo presidente. O gesto de passar a faixa é simbólico, não tem qualquer interferência no início do novo mandato. Praticamente recluso desde que foi derrotado, Bolsonaro não disse se vai ou não entregar a faixa a Lula.
“Acho que seria um grande gesto. Sou um grande fã do Winston Churchill. Tem um aforismo dele que diz que, na guerra, você tem de ter determinação, na vitória tem que ser magnânimo e na derrota, tem que ser altivo e desafiador. Acho que seria um gesto de altivez e de desafio: ‘Toma aí, te vira agora aí, meu irmão. Te vejo em 2026′”, disse Mourão na entrevista.
Protestos
Sobre as manifestações antidemocráticas nas portas dos quartéis, o ainda vice-presidente, que é general do Exército, foi enfático: para ele, os participantes dos atos fazem “interpretação enviesada” do artigo 142 da Constituição.
“A nossa visão do artigo 142 coloca três missões para as Forças Armadas: defesa da pátria; garantia dos Poderes Constitucionais; e, por iniciativa de qualquer um deles, Garantia da Lei e da Ordem. Tem gente que interpreta que a garantia dos poderes constitucionais seria um poder moderador concedido às Forças Armadas. Aí, até a interpretação disso é complicada”, afirmou.
“A minha mensagem é muito clara: nós temos que viver para lutar no outro dia. Não adianta querer morrer hoje, senão não vamos viver para lutar amanhã. Viver para constituirmos uma força tremenda. Temos um capital político de 58 milhões de pessoas. Podemos em 2024, bem planejados, abraçar um bom número de prefeituras, base do sistema político, e ganhar a eleição em 2026”, complementou.
Relação com o PT
Na longa entrevista publicada nesta quarta (16) pelo jornal, Mourão falou ainda que a relação dos militares com o governo petista “vai continuar tudo como dantes no quartel de Abrantes”, e que “o relacionamento dos governos do PT com as Forças Armadas foi mais ou menos tranquilo”. Porém, mostrou ressentimento dos militares com a ex-presidente Dilma Rousseff.
“A única questão foi aquela coisa da Comissão da Verdade. E aí foi a Dilma que meteu os pés pelas mãos. O Lula nunca meteu os pés pelas mãos junto às Forças. Vai escolher um ministro da Defesa, um civil qualquer desses aí, tem várias especulações”, concluiu.
O nome de Dilma, aliás, foi bastante citado nas redes sociais após a entrevista de Mourão. Diante da recusa do atual vice-presidente em entregar a faixa, caso Bolsonaro também se negue a fazer o gesto, várias pessoas sugeriram que caiba à ex-presidente a missão – um exagero sem respaldo pelas regras do cargo.