Ainda eclipsado pelo interesse e expectativa da opinião pública com o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), à frente da Presidência da República, Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador eleito de São Paulo, já está trabalhando na montagem de seu secretariado para 2023.
Entre os nomes que aparecem nas listas de possíveis secretários estão Mário Frias e Ricardo Salles, que foram eleitos deputados federais em São Paulo pelo PL, e que poderiam chefiar as secretarias de Cultura e Meio Ambiente do estado, pastas que comandaram no governo federal, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
De acordo com a CNN, a ida da dupla para o Palácio dos Bandeirantes poderia ajudar a recolocar na política alguns bolsonaristas que fracassaram nas urnas, como o deputado federal Coronel Tadeu (PL-SP), que não conseguiu se reeleger e ocupa a primeira suplência de seu partido.
Caso os nomes de Frias e Salles sejam confirmados, Freitas, que era ministro da Infraestrutura do atual governo e que sempre tentou se apresentar como um quadro técnico, tentando se afastar da linha ideológica e estridente do bolsonarismo, inicia seu mandato transformando São Paulo em um minigoverno de Bolsonaro.
Fernando Prioste, advogado popular no Instituto Socioambiental afirma que, do ponto de vista político, a indicação de Ricardo Salles já era previsível entre os ambientalistas, pois “ele é uma das pessoas que representa esse grupo político de extrema-direita, ligado ao bolsonarismo, que saiu vitorioso em São Paulo. A possível indicação será um desastre, pois ele não tem compromisso com as pautas ambientais”.
A partir da reflexão sobre a gestão de Salles no Ministério do Meio Ambiente, Prioste aponta possíveis caminhos que a pasta pode tomar no estado.
“Eu acredito que podemos esperar um processo de desregulamentação das questões ligadas ao meio ambiente, em especial os licenciamentos ambientais. Também vejo dificuldades de povos e comunidades tradicionais de avançar em respeito aos direitos humanos e além disso, dificuldade na lida nos conselhos de participação, porque o Salles já demonstrou ser pouco afável às políticas públicas com participação da sociedade civil.”
A indicação de Frias também não foi bem recebida entre os artistas. “Só da ventilação de seu nome, a maior parte das reações foi péssima e os futuros impactos socioeconômicos, culturais e criativos são muito preocupantes. São Paulo é um dos principais polos culturais, criativos e turísticos do mundo, e uma paralisia e o retrocesso nas políticas e mecanismos de valorização e investimento nessa enorme, diversa e potente cadeia produtiva, além da própria garantia dos direitos e a acesso à cultura como exercício da cidadania plena, seria muito prejudicial aos paulistas e ao futuro de nosso país”, afirma Danilo Cesar, historiador, produtor e gestor cultural, um dos coordenadores da Frente Ampla em Defesa da Cultura SP e integrante do Comitê Nacional Pró Leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc em Defesa da Cultura Brasileira.
César explica, ainda, que o pessimismo com o nome de Frias deriva da gestão “de guerra aberta à grande maioria do seu próprio setor, o oposto do diálogo colaborativo e construtivo”. Durante o governo de Bolsonaro, lembra produtor, “o ex-secretário de Cultura tomou medidas muito questionáveis no Pronac, e sinalização do desmonte dos principais fundos que mantém o Audiovisual brasileiro vivo, além do esvaziamento de programas e políticas aos pequenos e médios produtores.”