A reportagem do RP10 teve acesso com exclusividade ao depoimento da faxineira Allen Cristina Lino Dura, 24 anos, mãe da menina de 7 anos que caiu, na última segunda-feira (26), da sacada do 3º andar do apartamento onde mora em Birigui. Ela prestou depoimento à polícia nesta quinta-feira (29).
Allen demonstrou estar sofrendo duas vezes: primeiro pelo fato do acidente envolvendo sua filha e segundo pelas acusações e comentários pejorativos que vem sofrendo nas redes sociais. Segundo relata, havia deixado a filha pela primeira vez sozinha, por questão de 30 minutos, porque precisava passar no trabalho ao menos para arrumar a cozinha do local e pedir sua liberação pois não tinha com quem deixar a criança naquela tarde.
Ela esteve na DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) de Birigui, onde foi instaurado inquérito, acompanhada pelo advogado Maycon Zuliani Mazziero. Em seu depoimento, Allen explicou que a filha estuda no período da manhã, e a tarde fica no projeto Polícia Mirim. Quando o projeto não faz atendimento, Allen contrata uma babá, alternando entre duas mulheres de sua confiança, cujo contato foi passado para a polícia para confirmação dos fatos.
Ela disse que trocou recentemente de telefone e não ficou sabendo que nesta segunda-feira (26) o projeto não iria fazer atendimento. Ao chegar e encontrar o local fechado, ela voltou com a filha para casa. Prestes a vencer o horário de entrada em seu trabalho, que fica a menos de 100 metros do apartamento, para onde se mudou há apenas três semanas, ela viu que não daria tempo de chamar uma das babás.
Allen ligou o notebook e colocou um desenho para a filha assistir, e deixou WhatsApp Web aberto, para se comunicar com a menina. Ela disse que sua ideia era ir até o trabalho, ajeitar apenas a cozinha do local e pedir para seu superior liberá-la em seguida, pois segundo ela, ele costuma ser flexível e autoriza os pedidos de urgência quando necessário.
A menina pediu para a mãe trancar a porta da sala porque tinha medo de alguém entrar. No trajeto para o trabalho, que fica a uma quadra do apartamento, ela foi conversando com a menina. No entanto, a criança parou de responder aos chamados da mãe e menos de meia hora após ter saído de casa, resolveu voltar pra ver se estava tudo bem. No caminho de volta a proprietária do apartamento ligou para ela informando que a filha havia caído da sacada.
Assim que chegou, o Corpo de Bombeiros já havia socorrido a criança. Ela foi até a unidade de saúde e encontrou a filha passando por exames de raio-x. A menina estava consciente e dizia que não se lembrava o que teria ocorrido.
Aviso para a mãe
Conforme depoimento da mãe, no dia 27 a filha se lembrou o que teria ocorrido e contou a ela na presença do médico que como o notebook tinha travado, ela ficou com medo que a mãe ficasse preocupada por não estar respondendo as mensagens e decidiu descer pela sacada porque a porta estava trancada.
A menina detalhou à mãe que foi até a sacada para descer e avisar alguém que o notebook estava travado, depois se lembra que desmaiou e acordou com dor na perna. Allen também se prontificou a entregar à polícia as mensagens que comprovam o teor de seu depoimento.
Advogado
Procurado pela reportagem do RP10, o advogado Maycon Mazziero disse que sua cliente estava apenas tentando resolver uma questão de trabalho para poder ficar com a filha e se ausentou por meia hora.
De acordo com ele, sua cliente, que mora sozinha com a filha e não tinha parentes a disposição para ficar com a criança, estava preocupada com o trabalho e só queria avisar o patrão e deixar a cozinha organizada para poder ficar com a filha naquele dia.
Essa foi, segundo ele, a primeira vez que a criança ficou sozinha. Também disse que sua cliente está muito abalada e ainda suportando comentários maldosos de pessoas que não a conhecem e não sabem a real situação da forma em que tudo ocorreu.
“Foi uma fatalidade. Não há que se falar em abandono de incapaz neste caso. A criança nunca ficou sozinha na vida e a mãe saiu de casa por curto período apenas para limpar a cozinha do local de trabalho e solicitar a seu superior sua liberação visto que naquele dia esporadicamente a criança não pôde ficar com a Babá nem na Polícia Mirim. Ela precisa trabalhar para dar sustento a filha e não tinha outra atitude a tomar que não fosse essa. A Allen está em choque emocional e neste momento precisa de acolhimento. Seu único conforto é visitar sua filha no hospital e ver que está bem. Estamos à disposição da justiça para esclarecer o que for necessário e fornecer todas as provas solicitadas”, disse o defensor.
Allen e a filha se mudaram para esse apartamento há três semanas. Todas janelas têm grade de proteção, exceto na sacada.
Alta da UTI
A menina passou por cirurgia na Santa Casa de Araçatuba e nesta quinta-feira (29) teve alta da UTI e foi para a pediatria, onde continua se recuperando.
Conforme informação da assessoria de imprensa do hospital, a cirurgia para correções de fratura de fêmur e quadril foi bem sucedida. A equipe de ortopedia ainda avalia se haverá necessidade de fazer cirurgia no joelho. A recuperação da criança está evoluindo bem.
A queda
A menina foi socorrida em estado grave, após ter caído do terceiro andar do apartamento onde reside, na avenida João Cernach, no bairro Silvares, em Birigui, na tarde desta segunda-feira. No momento do incidente a menina estava sozinha.
A zeladora do condomínio de apartamentos foi quem a encontrou caída e chorando. Ao perguntar o que havia acontecido, a criança disse que tinha caído do apartamento. Ela estava no rumo da sacada, que não tem rede de proteção.
A zeladora acionou o resgate e como a mãe não estava no apartamento, a criança foi socorrida sem a presença de um responsável. No pronto-socorro a Polícia Militar e Conselho Tutelar foram acionados. No entanto, a informação é de que nenhum representante do Conselho Tutelar atendeu a solicitação da assistência social para ir à Santa Casa de Birigui.
A mãe da criança chegou ao pronto-socorro sem nenhum documento pessoal dela ou da filha. Os policiais levaram a mulher até o apartamento. No local não havia sinais de violência. Uma mesinha infantil estava encostada no beiral da sacada e pode ter sido usada pela criança para fazer a escalada.