Mais calmo e tolerante que o habitual, Ciro Gomes (PDT), candidato à presidência da República, encontrou no estúdio do Jornal Nacional, da Rede Globo, um ambiente igualmente tranquilo para apresentar sua candidatura, na noite desta terça-feira (23). Em clima morno, o pedetista despejou números durante a entrevista, mas não conseguiu explicar como conseguiria governar apenas com o apoio do seu partido no Congresso Nacional.
Ciro foi o segundo entrevistado da série de sabatinas do Jornal Nacional. Na última segunda-feira (22), o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi o entrevistado. Na próxima quinta-feira (24), será a vez de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e na sexta-feira (25), Simone Tebet (MDB).
Perguntado se conseguirá governar o país sem alianças, o candidato investiu em uma crítica ao que chamou de “presidencialismo de coalizão” e anunciou a intenção de implementar plebiscitos no país para que a população decida sobre reformas amplas.
“O Brasil se redemocratizou em 1989, se contarmos o marco da eleição. O Collor governou assim (presidencialismo de coalizão) e foi cassado. O FHC e o PSDB nunca mais ganharam com esse modelo, o Lula foi parar na cadeia. Esse modelo é a certeza de fracasso. Para resolver isso, primeiro, vou propor as ideias e não o ‘deixa que eu chuto’ que tem vigorado. Segundo, propor as reformas nos seis primeiros meses. Terceiro, ampliar a negociação com governadores e prefeitos, propondo um pacto novo. Feito isso, chamar o povo para votar diretamente por plebiscito (as reformas)”, afirmou Gomes.
Diante da falta de explicação sobre o método que utilizaria para que o Congresso Nacional o apoiasse, Gomes voltou a dizer que abrirá mão de um eventual segundo mandato. “O que destruiu a governança política brasileira é a reeleição, o presidente se colocar na defensiva, com medo de todo mundo, para fazer a reeleição. Por que? Porque tem medo de CPI e querem se reeleger.”
William Bonner, apresentador do Jornal Nacional, insistiu na pergunta. “Como abrir mão da reeleição fará com que os deputados o apoiem?”. Sem encontrar uma resposta, Ciro Gomes apelou à boa vontade do global. “Isso ajuda muito, com a experiência que tenho, acredite em mim.”
Em seguida, o candidato do PDT voltou a equiparar as candidaturas de Lula e Bolsonaro. “Estou tentando mostrar ao povo brasileiro essa polarização odienta, que eu não ajudei a construir. Pelo contrário, eu estava lá em 2018 tentando advertir que as pessoas não podiam usar a promessa enganosa do Bolsonaro para repudiar a corrupção generalizada e o colapso econômico gravíssimo que foram produzidos pelo PT.”
Na bancada do Jornal Nacional, Renata Vasconcellos questionou Ciro sobre o uso, por sua campanha, de um linguajar ofensivo e bélico com os demais candidatos. “Isso não ajuda a acirrar os ânimos que o senhor diz pretender apaziguar?”. “Não custa nada rever certos temas. Eu faço esse exercício de humildade permanentemente”, resumiu o candidato.
Se Vasconcellos e Bonner não rebateram Bolsonaro sobre corrupção, Ciro o fez. “Eu vi ontem aqui o cidadão (Bolsonaro) dizendo que não há corrupção no Brasil, mas a corrupção está institucionalizada, está um despudor porque manipula o dinheiro público.”
Sem ser interrompido pelos apresentadores e sem perder alterar a voz, Ciro Gomes seguiu tranquilo pelos 40 minutos previstos pela sabatina. No último minuto, em suas considerações finais, pediu. “Você que vota no Bolsonaro porque não quer o Lula de volta, me dá uma chance. Você que vota no Lula porque não quer mais o Bolsonaro, há um país a governar, me dê uma oportunidade.”