Que o poder de compra do brasileiro diminuiu nos últimos anos, não é segredo para ninguém. Mesmo optando pelos produtos mais baratos, o gasto com a compra de alimentos aumentou e a quantidade de itens diminuiu. Basta ir ao supermercado e perceber o impacto da alta dos preços. Mas o que é possível comprar, hoje, com R$ 100,00, em Araçatuba?
O RP10 foi às compras em uma rede de supermercados de Araçatuba para apurar o que é possível comprar de itens básicos com este valor. O critério utilizado para a escolha dos produtos foi o de menor preço, levando em consideração as promoções.
O que é possível comprar com R$ 100
O resultado foi um carrinho com:
- 900ml de óleo de soja
- 3kg de feijão carioca
- 1kg de arroz
- 2 pacotes de macarrão
- 1kg de sal
- 1kg de açúcar
- 1 litro de leite
- 1kg de farinha de trigo
- 1 pacote de molho de tomate
- 500 gramas de café
- 500 gramas de fubá
- 1 margarina de 500 gramas
- 1kg de frango congelado
- 1 detergente.
A quantidade de produtos no carrinho não supre nem de longe as necessidades de uma família com quatro pessoas. Ficaram de fora os itens de higiene pessoal, como sabonete e pasta de dente, assim como os de limpeza, como sabão em pó e água sanitária, além de carne bovina e hortifrútis.
Vale lembrar que os produtos escolhidos foram os de menor preço, o que significa que, se optar por marcas, o consumidor não consegue levar para casa a mesma quantidade de itens.
Para efeito de comparação, a reportagem montou uma cesta de produtos composta por:
- 10kg de arroz
- 3kg de feijão
- 2kg de frango
- 2 litros de óleo
- 2kg de açúcar
- 3 pacotes de macarrão
- 1kg de café
- 1kg de sal
- 1kg de farinha de trigo
- 1 pacote de farinha de mandioca
- 3 molhos de tomate
- 1 margarina, 1 lata de sardinha
- 4 litros de leite
- 2 pacotes de pão de forma
- 1 goiabada
- 1kg de tomate
- 2kg de batata
- 1kg de banana
- 1kg de coxão mole
- 4 sabonetes
- 4 pastas de dente
- 16 rolos de papel higiênico
- 2 litros de água sanitária
- 1 detergente
- 1 sabão em pó.
O valor total da compra foi de R$ 281,69.
Inflação generalizada
O economista e professor universitário Marco Aurélio Barbosa, de Araçatuba, afirma que o aumento de preços dos alimentos é reflexo da alta da inflação registrada nos últimos dois anos. “É uma inflação que não está concentrada em um único setor, mas que atinge a saúde, educação, transporte, habitação, comunicação e serviços em geral”, ponderou.
De outro lado, o reajuste dos salários não acompanha a escalada de preços, o que reduz o poder aquisitivo das famílias, sobretudo as de renda menor, apertando o orçamento na hora de quitar as contas. Para se ter uma ideia, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), medido pelo IBGE, foi de 10,06% em 2021, enquanto que o acumulado nos últimos 12 meses (de maio de 2021 a maio de 2022) é de 11,73%.
Taxa básica de juros
“O acumulado em 12 meses é maior do que o registrado em 2021, o que mostra que o processo inflacionário continua, apesar de o governo tormar medidas na área monetária, como o aumento na taxa básica de juros, a Selic, na tentativa de conter a inflação”, afirmou Souza.
O último reajuste da Selic foi em 4 de maio, quando a taxa básica de juros passou dos 11,75% para os 12,75% ao ano. Para o professor e economista, a medida cria outros problemas. Um deles é a diminuição do ritmo de crescimento da economia, pois o custo dos financiamentos e das compras a prazo aumenta.
Pandemia, guerra e memória inflacionária
“O pior é que esta medida não está conseguindo conter o aumento dos preços”, avalia o economista. Ele destaca, ainda, que a inflação vivida pelo Brasil e outros países do mundo é reflexo da pandemia e da guerra na Ucrânia, que geraram um desequilíbrio mundial na cadeia produtiva, com o aumento no preço das matérias-primas e dos combustíveis. “A gente tem que lembrar também que o Brasil possui uma memória inflacionária. Um setor que não teve aumento de custo, por exemplo, acaba aplicando reajustes para acompanhar os demais, repassando as altas para o consumidor”.
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Para as famílias, as principais dicas, segundo o economista, é não comprar por impulso, avaliar bem o que é realmente necessário adquirir, procurar promoções pela internet e evitar a todo custo o endividamento que pode dificultar ainda mais o orçamento.
Salário mínimo ideal
Segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o salário mínimo ideal para a manutenção de uma família de quatro pessoas é de R$ 6.535,40 – hoje, o mínimo nacional é de R$ 1.212,00, valor 81,45% menor do que o ideal.
O valor calculado pelo Dieese leva em conta necessidades básicas do trabalhador e sua família, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social.